quarta-feira, 31 de outubro de 2012

LER É REFLEXÃO

O QUE A GENTE NÃO AGUENTA MAIS OUVIR 

* "Elogios"aos negros dizendo que são de "alma branca". Nada mais ofensivo.
* Porteiro de prédio olhando feio e decidindo quem vai subir pelo elevador social e quem vai pelo serviço.
* Garçon demorando a atender quando "acha"que o cliente não tem cacife para almoçar ali.
* Piadas de mau-gosto, preconceituosas e desagradáveis.
* Qualquer nordestino sendo chamado de "baiano" ou "paraíba".
*Suavizar a cor dos negros, chamando de "moreninho"ou "escurinho".
* Referir-se a qualquer oriental, seja, chinês, japonês,ou coreano, como "japa". Cada um é uma raça distinta e, na maioria dos casos, eles são brasileiros.

O QUE A GENTE QUERIA OUVIR TODA HORA
* Que cada raça tivesse orgulho de suas tradiçōes e que gostassem de compartilhar de suas festas, músicas, danças e crenças com os outros.
* Que o ítem "boa aparência" nos anúncios de emprego fosse relativo ao astral de cada um e não tivesse nada a ver com a cor da pele ou raça.
* Que não fosse preciso existir grupos de ação para impedir que os racistas façam o que quiserem.
* Que a cor da pele não fosse critério para nada. Nem para escolher namorado, nem para conseguir trabalho, nem para ser suspeito aos olhos da polícia.

Fonte: Revista Capricho , nov. 1996



terça-feira, 30 de outubro de 2012

COMO TRABALHAR A LEI Nº 10.639/2003 SUGESTÕES PARA AS DISCIPLINAS


COMO TRABALHAR A LEI Nº 10.639/2003 E AS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E HISTÓRIA E CULTURA
AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA ESCOLA?

Temos a lei. E agora? Agora trata-se de avançarmos na articulação da lei e seus princípios norteadores com
a prática cotidiana das escolas. Como vencer as resistências dentro e fora do contexto escolar? Que abordagens
fazer? Tudo isso a conselheira Petronilha aborda com propriedade e riqueza de detalhes no Parecer do Conselho
Nacional de Educação que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para as Relações Étnico-Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Apresentamos aqui algumas sugestões. Estes são frutos de atividades já desenvolvidas por
vários educadores de escolas públicas do Paraná.

Sugestões de atividades para as escolas:
• realização de atividades que propiciem o contato com a cultura africana e afro-descendente, culminando em
desfiles, exposições, mostras de tetro e dança nas quais sejam apresentados penteados, vestimentas, adereços,
utensílios, objetos e rituais resultantes desse processo;
• valorizar a diversidade étnica brasileira, a partir de discussões e atividades  que tenham como foco a criança e o
jovem negro, a sua família em diferentes contextos sociais e profissionais;
• elaboração de pesquisas e debates sobre o espaço dos afrodescendentes e de sua cultura nos meios de comunicação de massa (em especial na TV).

Língua Portuguesa e Literatura
• Realizar com os alunos estudos e pesquisas de países que falam a língua portuguesa. o que os une? Quais as
razões? Atualmente como estão estes países? Qual a composição étnica? Diferenças do Português falado e
escrito entre eles. Exemplos: Na alimentação: vatapá, acarajé, caruru, canjica, etc. Na música: os instrumentos
musicais, maracá, cuíca, atabaque, reco-reco, agogô. Na religião: umbanda e candomblé.
• Após debates em sala, a partir de textos trabalhados com os alunos, solicitar que produzam textos sobre temas
como: o racismo no Brasil, a presença do negro na mídia, políticas afirmativas, cotas, mercado de trabalho, etc.
• Trabalhar com as implicações da carga pejorativa atribuída ao termo negro e outras expressões do vocabulário.
• Realizar com os alunos estudos de obras literárias de escritores negros como Cruz e Souza; Lima Barreto.
Machado de Assis; Solano Trindade, etc. destacando a contribuição do povo negro à cultura nacional.
• Incluir os conteúdos de literatura, o estudo do Teatro Experimental de negro iniciado no Rio de Janeiro em 1944
e a pesquisa sobre a Imprensa negra brasileira no início da década de 20. Alguns jornais produzidos por afrodescendentes que circularam semanalmente durante até mais de 50 anos.
• Utilizar pesquisas e revistas produzidas pela comunidade afrodescendente do seu município.
• Trabalhar a leitura e interpretação de letras de músicas relacionadas à questão racial.
• Trabalhar com os gêneros musicais do samba e rap. cultura afro
• Poesias que podem ser feitas pelas próprias crianças relacionadas ao povo afrodescendente e sua cultura. A
partir dessa literatura a criança afrodescendente constrói uma imagem da realidade social que não a inclui.
• Realizar estudos de obras brasileiras que discutam, abordem questões relacionadas a cultura afro-brasileira:
Macunaíma, Mário de Andrade; Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre; O Escravo, Castro Alves; Sermões do Pe.
Antonio Vieira; A Cidade de Deus, Paulo Lins; O Mulato, Aluísio Azevedo; O Bom Crioulo, Adolfo Caminha.
• Na pintura, leitura e interpretação de obras de Di Cavalcanti, Lazar Segall e Cândido Portinari que retratam a figura
do negro.

História
O professor de História precisa construir um novo olhar sobre a história nacional e regional/local, ressaltando a
contribuição dos africanos e afrodescendentes na constituição da nação brasileira.
Algumas visões equivocadas sobre o negro e o continente africano devem ser desmitificadas, entre elas:
• a do negro visto como escravo: não se pode naturalizar a situação do negro como escravo. Os negros não eram
escravos, foram escravizados. A África não é uma terra de escravos. Os povos africanos eram portadores de
história, de saberes, conhecimentos, na maioria das vezes transmitidos pela oralidade;
• a da África como um continente primitivo: a imagem de que o continente africano é povoado por tribos primitivas em imensas florestas está presente no imaginário da maioria das pessoas. Imagem construída pelos meios de
comunicação e pelos próprios livros didáticos. Na África tivemos grandes nações e impérios (como por exemplo
o Egito Antigo). Muito das tecnologias utilizadas no Brasil, no cultivo da cana-de-açúcar e na mineração, foram
trazidos pelos negros oriundos da África;
• a de que o negro foi escravizado porque era mais dócil, menos rebelde que os indígenas: Esta idéia está presente
em boa parte dos livros didáticos. Omite-se que a história dos africanos escravizados está inserida num contexto
de acumulação de bens de capital, ocorrida entre os séculos XVI e XIX, envolvendo África, Europa e Américas.
No Brasil há uma história de organização e resistência, desde as vindas nos navios negreiros, as fugas individuais e coletivas para os quilombos, a organização em irmandades, a resistência da cultura nas manifestações
religiosas dos batuques e terreiros, até as formas de negociação para a conquista da liberdade;
• a da democracia racial: que se forjou na sociedade brasileira, mascarando o tratamento desigual destinado aos
afrodescendentes.
Sugere-se para a disciplina de História, entre outros, o trabalho com os seguintes temas:
Estudo...
• dos grandes reinos africanos, as organizações culturais, políticas e sociais de Mali, do Congo, do Zimbabwe, do
Egito, entre outros;
• dos povos escravizados trazidos para o Brasil pelo tráfico negreiro e as conseqüências da Diáspora Africana;
• das resistências do povo negro (Quilombos, Revolta dos Malês, Canudos, Revolta da Chibata e todas as formas
de negociação e conflito);
• da promulgação da Lei de Terras e do fim do tráfico negreiro(1850) e o impacto das ideologias de branqueamento
(darwinismo social) sobre o processo de imigração européia;
• dos remanescentes de quilombos, sua cultura material e imaterial;
• da Frente Negra Brasileira, no início dos anos 30, criada em São Paulo;
• do significado da data 20 de novembro, repensando o 13 de maio.cultura afro  

Geografia
Sendo a Geografia a ciência cujo objeto é o espaço geográfico e suas inter-relações, caberá ao professor desta
disciplina tratar dos seguintes contextos:
• População brasileira: miscigenação de povos;
• Distribuição espacial da população afrodescendente no Brasil;
• A contribuição do negro na construção da nação brasileira;
• O movimento do povo africano no tempo e no espaço;
• Questões relativas ao trabalho e renda;
• A colonização da África pelos europeus;
• A origem dos grupos étnicos que foram trazidos para o Brasil ( a rota da escravidão);
• A política de imigração e a teoria do embranquecimento no mundo;
• Localizar no mapa e pesquisar sobre a atualidade de alguns países ( como vivem, população, idioma, economia,
cultura, história, música, religião);
• Estudo da organização espacial das aldeias africanas ( questões urbanísticas);
• Estudo de como o continente africano se configurou espacialmente: as (re)divisões territoriais;
• Análise de dados do IBGE sobre a composição da população brasileira por cor, renda e escolaridade no país e no
município em uma perspectiva geográfica.
• Discussões a respeito de práticas de segregação racial, como as acontecidas, por exemplo na África do Sul , e
nos Estados Unidos da América..
Ensino Religioso
• Estudar a influência das celebrações religiosas das tradições afros na cultura do Brasil;
• Pesquisa sobre as religiões africanas presentes no Brasil;
• Estudo dos orixás.

Educação Artística/Arte
• A presença de elementos e rituais das culturas de matriz africana nas manifestações populares brasileiras:
Puxada de rede, Macululê, Capoeira, Congada, Maracatu, Tambor de crioulo, Samba de roda, Umbigada, Carimbó,
Côco e etc;
• Danças de natureza:
Religiosa: candomblé
Lúdica: brincadeira de roda
Funerárias: Axexê
Guerreira: Congada
Dramáticas: Maracatu
Profanas: Jongo;
• A contribuição artística da cultura africana na formação da Música Popular Brasileira: origem do Batuque, do
Lundu e do Samba, entre outros;
• Poética musical envolvendo a temática do negro;
• Nossos cantores e compositores negros: A Cultura Africana e Afro-brasileira e as Artes Plásticas: máscaras,
esculturas (argila, madeira, metal); ornamentos; tapeçaria; tecelagem; pintura corporal; estamparia;cultura afro
• Artistas plásticos como Mestre Didi (Bahia- Brasil) e a presença/influência da arte africana nas obras de artistas
contemporâneos;
• Proposta interdisciplinar: explorar os conteúdos sobre a estrutura de Fractais (física e matemática) presentes na
arte africana (penteado, arquitetura, música, estamparia, objetos decorativos, etc).
As sugestões devem ultrapassar a condição de conteúdos, para que possam ser analisados e recontextualizados
pela ótica das artes e serem avaliadas esteticamente através dos elementos do movimento, do som, dos elementos plásticos: da cor, da forma, etc.

Biologia/Ciências
Sugere-se aqui algumas temáticas possíveis, a serem desenvolvidas no ensino de Ciências e Biologia, que
contemplam as Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana:
• Estudo sobre as teorias antropológicas;
• Desmistificação das teorias racistas, destituindo de significado a pseudo “superioridade” racial;
• Estudo das características biológicas (biotipo) dos diversos povos;
• Contribuições dos povos africanos e de seus descendentes para os avanços da Ciência e da Tecnologia;
• Análise e Reflexão sobre o panorama da saúde dos africanos, in loco. Essa análise deve considerar os aspectos
políticos, econômicos, ambientais, culturais e sociais intrínsecos à referida situação. Neste sentido, o professor
de Ciências e Biologia pode abordar os conflitos entre epidemias/endemias e o atendimento à saúde, entre as
doenças e as condições de higiene proporcionadas a população bem como o índice de desenvolvimento humano (IDH).

Educação Física
Atividades que podem ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física:
• Estudo das práticas corporais da cultura negra, em diferentes momentos históricos;
• As danças e suas manifestações corporais na cultura Afro-Brasileira;
• Os brinquedos e brincadeiras na cultura africana e sua ressignificação nas práticas corporais afro-brasileiras;
• Os jogos praticados no Brasil pelos afro-descendentes e africanos numa perspectiva histórica;
• As manifestações corporais expressas no folclore brasileiro;
• A capoeira, seus significados e sentidos no contexto histórico-social, como elemento da cultura corporal.
Através da capoeira é possível resgatar toda historicidade do negro, desde o momento em que foi retirado do
continente africano. São exemplos significativos as suas danças de guerra, caça, festas, como a da puberdade e
as grandes caminhadas pelas florestas. Tais elementos representam subsídios na construção de propostas para
o trabalho pedagógico nas escolas.

Matemática
• Análise dos dados do IBGE sobre a composição da população brasileira e por cor, renda e escolaridade no país
e no município.
• Analisar pesquisas relacionadas ao negro e mercado de trabalho no país.
• Realizar com os alunos pesquisas de dados no município com relação à população negra.

FONTE:
Cadernos temáticos: Inserção dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana / Paraná. Secretaria de Estado da Educação.

Superintendência de Educação. Departamento de Ensino Fundamental. –
Curitiba : SEED - Pr., 2005.
43 p.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

NA ROTA DOS ORIXÁS ATLÂNTICO NEGRO

Na Rota dos Orixás apresenta a grande influência africana na religiosidade brasileira
O documentário faz uma viagem no espaço e no tempo em busca das origens africanas da cultura brasileira. Historiadores, antropólogos e sacerdotes africanos e brasileiros relatam fatos surpreendentes sobre inúmeras afinidades culturais que unem os dois lados do Atlântico

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Onde ela escondia o seu racismo?


Onde ela escondia seu racismo?

terça-feira 25 de setembro de 2012, por Vanessa Silva
Doutora em antropologia e professora de história das religiões afro na UEPA é acusada de injúria racial, que é uma forma mais “branda” de tratamento aos casos de racismo.

Um programa de televisão mostrou um vídeo com imagens onde uma professora universitária utilizava vários termos considerados racistas para ofender um segurança e alguns estudantes negros. Esse caso aconteceu em setembro de 2012 na Universidade Estadual do Pará (UEPA) e teve como principal vítima um segurança negro. Dentre os xingamentos, ela o chamou de “macaco”.
A Doutora em antropologia e professora de história das religiões afro na UEPA é acusada de injúria racial, que é uma forma mais “branda” de punição sobre casos de racismo. Alguns dias após o referido fato, ela fez um pedido de desculpa alegando que utilizou o termo “macaco no sentido de macaquices”. Um inquérito foi aberto pela polícia para julgar o caso.
Em Carta aberta, o Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA – requer que a Reitora da Universidade do Estado do Pará analise o caso: “...conforme a natureza de crime de racismo e não como simples crime de injúria racial, pois o ferido em sua dignidade humana, não foi apenas o Sr. Rubens Silva, mas a “raça”(sob rasura) negra, tão vilipendiada pelos horrores do racismo e da discriminação racial, sobretudo porque, no Brasil, se vive hoje na constante busca de cumprimento aos direitos humanos de todos, revendo os erros cometidos no passado.”
A utilização do termo “Macaco” como xingamento reforça estereótipos racistas. A estratégia utilizada tem como objetivo atrelar à população negra uma imagem de primata, de selvagem e de instintivo. Assim como já foram (e ainda são) atreladas falsas imagens aos africanos escravizados, às mulheres negras (mulatas), à juventude negra e outros grupos. Atitudes como essas não permitem que a população negra tenha uma imagem positiva de si.
Criado para representar uma imagem negativa sobre o outro, o estereótipo é um eficaz instrumento de dominação e uma eficiente forma de agressão bastante difundida no Brasil. Segundo Ana Célia no livro A discriminação do negro no livro didático, ”o estereótipo é uma visão simplificada e conveniente de um indivíduo ou grupo qualquer, utilizada para estimular o racismo”. Ainda sobre o estereótipo, cabe destacar mais um trecho deste livro: “... constrói idéia negativa a respeito do outro, nascida da necessidade de promover e justificar a agressão, construindo um eficaz instrumento de internalização da ideologia do embranquecimento.”
Cientistas de todo o mundo já realizaram pesquisas sobre os macacos. Em muitos casos, obtiveram resultados que os assemelham aos seres humanos e chegam a afirmar que descendem de um primata comum. Dentre as descobertas destaca-se que geneticamente têm cerca de 99% de semelhanças com os humanos. Analisaram os Chipanzés e perceberam que eles encaram a morte de forma similar aos humanos, conseguem resolver problemas de lógica e aprendem libras.
Após bastante tempo e dinheiro investidos, esses estudos ainda não serviram para mudança de certos comportamentos racistas. Uma contradição já que a maioria dessas pessoas costuma usar a ciência como explicação para quase tudo. Os estudos sobre a genética e os comportamentos dos macacos os assemelham com os humanos e não somente com os negros. Mesmo considerando que, do ponto de vista biológico, não existe uma superioridade entre os organismos, num caráter mais sociológico e antropológico nos permite alguns questionamentos: Embora os humanos tenham essa grande semelhança genética com os macacos, por que será que grupos e indivíduos racistas continuam utilizando esses animais como xingamentos? Seria essa semelhança somente entre a população negra e os macacos?
Os xingamentos atrelando à população negra uma imagem inferior e ruim revelam uma das mais comuns manifestações de racismo. Ao falar sobre o termo “macaco” como xingamento é importante relembrar equivocadas e racistas construções eurocêntricas que afirmavam a superioridade branca frente aos povos africanos. Provavelmente a professora estava imbuída por um sentimento como esse e sentiu-se no direito de atingir um segurança do local em que trabalha. O pedido de desculpas não a isenta da culpa (crime). Macaquice será deixar esse caso na impunidade!
Sobre estereótipos:
SILVA, Ana Célia. A Discriminação do negro no livro didático. 2ª ed. Salvador: EDUFBA, 2004.
Informações sobre a semelhança entre humanos e macacos:
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude....
http://super.abril.com.br/ciencia/h....
Veja reportagem e entenda mais sobre o caso citado no texto:
http://fantastico.globo.com/Jornali....
Carta aberta do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA – à Reitora da Universidade do Estado do Pará:
http://www.cedenpa.org.br/Carta-abe...
Fonte: Correio Nagô.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Professora Meri T. Mackowiak Machado Disciplina : Matemática

Alunos do 6º Ano B da Escola Estadual Cristo Rei  aproveitam as aulas de Matemática para pesquisar sobre culinária Africana e Afro-brasileira .


 Após pesquisar, os alunos  confeccionaram um caderno de culinária, onde cada um teve a oportunidade de escrever a sua receita pesquisada.






Esta produção será aproveitada em sala de aula para trabalhar os conteúdos relacionados como: sistema de medidas, frações,entre outros.










Culinária
Outra grande contribuição da cultura africana se mostra à mesa. Pratos como o vatapá, acarajé, caruru, mungunzá, sarapatel, baba de moça, cocada, bala de coco e muitos outros exemplos são iguarias da cozinha brasileira e admirados em todo o mundo.
Mas nenhuma receita se iguala em popularidade à feijoada. Originada das senzalas, era feita das sobras de carnes que os senhores de engenhos não comiam. Enquanto as partes mais nobres iam para a mesa dos seus donos, aos escravos restavam as orelhas, pés e outras partes dos porcos, que misturadas com feijão preto e cozidas em um grande caldeirão, deram origem a um dos pratos mais saborosos e degustados da culinária nacional. 



RELEVÂNCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO- BRASILEIRA




Vídeo apresentado como requisito da disciplina Psicologia da Educação, na UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob a regência do Professor Marcelo Abreu. 
A intenção é promover reflexões sobre a importância de se cumprir a lei 10.639/2003 que obriga o ensino de História e cultura afro-brasileira nas instituições de ensino fundamental e médio.

A CONSTRUÇÃO DA IGUALDADE


POEMA QUILOMBOLA


Navegando pela Internet encontrei esta pérola!!!

 Poema Quilombola
  • Penso que as causas sociais
  • Faz com que aprendo mais Reflito meu aprender
  • Para amanhã saber fazer.
  • E sonho a cada instante Com nossa luta
  • Para que no futuro
  • A vitória seja absoluta!
  • Olha aí meu povo!
  • Os quilombolas chegando de novo Mostrando toda sua cultura
  • Colocando sua força de guerra Pelo direito a terra
  • Na habilidade da sobrevivência guerreira
  • Não esquecer: Oralidade, tradição e cultura
  • Não entramos na luta por brincadeira
  • A cultura negra no Brasil É maravilhosa!
  • Simpatia, bondade, inteligência, alegria...
  • Meu Deus quanta magia!
  • A nossa luta ligada ao coração Está ligada a nossos ancestrais
  • E está ligada ao nosso futuro Esta ligada a nossa emancipação
  • Para a construção justa E solidária de uma sociedade
  • Devemos conhecer os quilombolas
  • Olhar e escutar....
  • E fazer parte da comunidade Correr atrás de seus objetivos
  • Ontem, hoje, amanhã e sempre
  • A cada novo dia No nascente e no poente Consciência negra Luta, escola... Liberdade
  • Mudaremos a sociedade Pois somos quilombolas de verdade Quilombola eu sou
  • E me orgulho de coração E que nesse encontro haja Várias trocas de informação
  • Falamos das comunidades Da saúde e da educação 

  • Poema construído por integrantes da Oficina Educação das Relações Étnico-raciais em áreas Remanescentes de quilombos. 15/10/2008.
  • Docente Prof.Ms. Lauro Cornélio da Rocha

terça-feira, 16 de outubro de 2012

POR UMA ESCOLA SEM RACISMO

Curso de Gênero,   Etnia  e  Diversidade Sexual da  App Sindicato  no dia 14/09/2012 na sede da App em Francisco Beltrão, com o tema: 
" Por uma escola sem Racismo".

  A convite da APP Sindicato a representante da Equipe Multidisciplinar participou deste evento para enriquecer  os trabalhos dos professores neste  Blog,  por  uma educação democrática , multicultural e pluriétnica.


sábado, 13 de outubro de 2012

OS RACISTAS OS PRECONCEITUOSOS


OS RACISTAS
                                                                   Richard Zajaczkowski
O racismo é uma das formas mais odiosas de discriminação racial que pode haver na face da Terra. As pessoas que no íntimo se consideram racistas, embora de público não admitam essa possibilidade, têm por princípio justificar uma espécie de escravatura moderna do ser humano.
Essa arbitrariedade não atinge apenas as pessoas de cor, pois se estende também aos povos indígenas, aos judeus e outras minorias. Por serem raças sem maior predomínio nos vários campos de atividade humana, os homens que subjugam grande parcela das economias e riquezas do Planeta, entendem que os demais povos devam se submeter a sua opressão.
Embora se diga que no Brasil não há racismo, ao menos abertamente, cientistas e estudiosos afirmam que se depender de uma mudança de mentalidade, em favor dos negros, vamos ter que aguardar por mais 500 anos.
Na verdade, se focalizarmos a história das raças, seu preconceito e intolerância, verificaremos que ela teve início quando o filósofo inglês Herbert Spencer, mentor da frase “sobrevivência dos mais aptos,” entendeu que a vida em sociedade é uma luta ‘natural.’
Com isso ele quis dizer que é normal que vençam os mais fortes, tenham sucesso, riqueza e poder social; aos fracos, os despojos do fracasso. E da sobrevivência dos mais aptos é que surgiu a famosa obra “Sobre a Origem das Espécies por meio da Seleção Natural,” do cientista inglês Charles Darwin.
 Os pensadores da sociedade capitalista da época vincularam as teorias de Spencer e Darwin a ideologias eugenistas ( estudo, reprodução e melhoramento da raça humana) e racistas. Hitler, com seu ideário de raça ariana foi um exemplo falido.
Desde então, as elites dominantes, amparadas por vasta literatura preconceituosa, (leia-se “O Espetáculo das Raças”, “O Caráter Nacional Brasileiro” e outros) segregam os menos afortunados, deixando-os às margens do desemprego, do subemprego, da pobreza, do analfabetismo, da miséria, da doença e de uma vida marginal.
Embora possamos formar idéias próprias, elas não se encaixariam e nem traduziriam nos mesmos moldes os nossos sentimentos, a respeito da realização de uma democracia racial no Brasil, atualmente, conforme assevera a doutora em Psicologia pela USP, Maria Augusta Bolsanello: “Pode-se dizer que o racismo é uma forma perversa de violência contra a dignidade humana.”
“Bastam algumas propagandas, algumas inverdades de caráter pseudocientífico, mas ditas com seriedade e com o aval desta ou daquela personalidade, para que a visão desumana de mundo seja aceita. Nasce então e arraiga-se o preconceito e a intolerância, que logo se convertem em práticas inconscientes e cotidianas de uma injustiça degradante.”
Nossa história semanal mostra que apesar de haver pessoas que escondem seus sentimentos raciais, nem todas se valem dessa faculdade abjeta: Era uma vez um velho homem que vendia balões numa quermesse. Evidentemente, o homem era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho soltar-se e elevar-se nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens compradores de balões.
Havia ali perto um menino negro que estava observando o vendedor e, é claro, apreciando os balões. Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul, depois um amarelo e, finalmente, um branco. Todos foram subindo até sumirem de vista. O menino, de olhar atento, seguia cada um. Ficava imaginando mil coisas... Uma coisa o aborrecia: o homem não soltava o balão preto. Então, aproximou-se do vendedor e perguntou-lhe:
– Moço, se o senhor soltasse o balão preto ele subiria tanto quanto os outros? O vendedor de balões sorriu compreensivamente para o menino, arrebentou a linha que prendia o balão preto e, enquanto ele se elevava nos ares, disse-lhe: – Não é a cor, filho, é o que está dentro dele que o faz subir.
Moral da história: quem julga pelas aparências, também será julgado por elas.


 OS PRECONCEITUOSOS


O ser humano é a única criatura que tem o péssimo hábito de formar idéias preconcebidas a respeito de outras pessoas. Esse tipo de atitude mental quase sempre resulta na falta de uma reflexão mais séria. Outras vezes, ouviu dizer comentários desairosos sobre alguém e, ao invés de procurar mais informações, passa adiante o que escutou pela primeira vez.
Além disso, carrega consigo uma outra característica: a de acrescentar fatos e situações criadas pela sua mente doentia, ou seja, ele passa adiante uma fofoca, um fato inverídico e aumentado com sua própria fantasia.
 Há situações nas quais pessoas inescrupulosas gostam e se deleitam com o uso facultativo do cérebro, do intelecto para prejudicar e falar mal de quem elas detestam. Pessoas assim estão pouco ligando para o caráter dos outros, pois suas línguas viperinas a todo instante mancham a reputação de seus semelhantes.
Esse tipo de conduta por vezes gera uma certa preocupação nas pessoas de bem, pois elas quase sempre acabam sendo o que nunca foram, ou seja, ficam conhecidas por defeitos que não possuem e nem praticaram. Quanto a isso, há uma frase de cunho filosófico que diz:
Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação, porque seu caráter é quem você realmente é, enquanto sua reputação não passa do que os outros pensam de você. O mundo mental que criamos em torno da reputação de qualquer pessoa, sendo falso, é o primeiro passo para afastá-la de nós por meio da discriminação.
Discriminar é separar, ou seja, afastar do nosso convívio pessoas que sejam diferentes do nosso olhar preconceituoso, tais como deficiência física ou mental, de sexo, de raça, de cor da pele ou de conduta comportamental (homossexualidade, lesbianismo, etc).
Quando esse preconceito atinge a esfera das relações no trabalho ou no amor, para se sobressair, o ser humano se utiliza dos mais desprezíveis e abjetos sentimentos para satisfazer seus desejos: a inveja, o ódio, a mentira, a difamação e, não raras vezes, almejando até a morte de seus desafetos.
Nossa história mostra que se refletíssemos melhor, haveria menos preconceito e mais pessoas ligadas por interesses comuns: “Era uma vez um sapinho que encontrou um bicho comprido, fino, brilhante e colorido deitado no caminho. – Olá! O que você está fazendo estirada na estrada? – Estou me esquentando aqui no sol. Sou uma cobrinha, e você?  
– Um sapo. Vamos brincar? E eles brincaram a manhã toda no mato. Vou ensinar você a pular. E eles pularam a tarde toda pela estrada. – Vou ensinar você a subir na árvore se enroscando e deslizando pelo tronco. E eles subiram. Ficaram com fome e foram embora, cada um para sua casa, prometendo se encontrar no dia seguinte.
– Obrigada por me ensinar a pular. – Obrigado por me ensinar a subir na árvore. Em casa, o sapinho mostrou à mãe que sabia rastejar. – Quem ensinou isso a você? – A cobra, minha amiga. – Você não sabe que a família Cobra não é gente boa? Eles têm veneno. Você está proibido de brincar com cobras. E também de rastejar por aí. Não fica bem.
Em casa, a cobrinha mostrou à mãe que sabia pular. – Quem ensinou isso a você? – O sapo, meu amigo. – Que besteira! Você não sabe que a gente nunca se deu com a família Sapo? Da próxima vez, agarre o sapo e... bom apetite! E pare de pular. Nós cobras não fazemos isso. No dia seguinte, cada um ficou em seu canto. – Acho que não posso rastejar com você hoje.
A cobrinha olhou, lembrou do conselho da mãe e pensou: ‘Se ele chegar perto, eu pulo e o devoro’. Mas lembrou-se da alegria da véspera e dos pulos que aprendeu com o sapinho. Suspirou e deslizou para o mato. Daquele dia em diante, o sapinho e a cobrinha não brincaram mais juntos. Mas ficavam sempre ao sol, pensando no único dia em que foram amigos.”
Moral da história: Se não existe harmonia entre as raças humanas, é porque somos os únicos seres que criamos nossos próprios obstáculos lá onde eles não existem.
              Richard Zajaczkowski, bacharel em Direito,
Oficial de Justiça Avaliador, jornalista
e membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão
E-mail: richard.zaja@uol.com.br
    

MANDELA Biografia - Filme Invictus


Biografia de Nelson Mandela

A equipe do Evolução África elaborou uma biografia sobre Nelson Mandela, um grande líder negro que se destacou na luta pela igualdade racial. Confiram!


               Luta contra o apartheid

O apartheid, que significa "vida separada", era o regime de segregação racial existente na 
África do Sul, que obrigava os negros a viverem separados. Os brancos controlavam o poder, enquanto o restante da população não gozava de vários direitos políticos, econômicos e sociais.

Ainda estudante de Direito, Mandela começou sua luta contra o regime do apartheid. No ano de 1942, entrou efetivamente para a oposição, ingressando no Congresso Nacional Africano (movimento contra o apartheid). Em 1944, participou da fundação, junto com Oliver Tambo e Walter Sisulu, da Liga Jovem do CNA.

Durante toda a década de 1950, Nelson Mandela foi um dos principais membros do movimento antiapartheid. Participou da divulgação da “Carta da Liberdade”, em 1955, documento pelo qual defendiam um programa para o fim do regime segregacionista.

Mandela sempre defendeu a luta pacífica contra o apartheid. Porém, sua opinião mudou em 21 de março de 1960. Nesse dia, policiais sul-africanos atiraram contra manifestante negros, matando 69 pessoas. Esse dia, conhecido como “O Massacre de Sharpeville”, fez com que Mandela passasse a defender a luta armada contra o sistema.

Em 1961, Mandela tornou-se comandante do braço armado do CNA, conhecido como "Lança da Nação". Passou a buscar ajuda financeira internacional para financiar a luta. Porém, em 1962, foi preso e condenado a cinco anos de prisão, por incentivo a greves e viagem ao exterior sem autorização. Em 1964, Mandela foi julgado novamente e condenado à prisão perpétua por planejar ações armadas.

Mandela permaneceu preso de 1964 a 1990. Nestes 26 anos, tornou-se o símbolo da luta antiapartheid na África do Sul. Mesmo na prisão, conseguiu enviar cartas para organizar e incentivar a luta pelo fim da segregação racial no país. Neste período de prisão, recebeu apoio de vários segmentos sociais e governos do mundo todo.

Com o aumento das pressões internacionais, o então presidente da África do Sul, Frederik de Klerk solicitou, em 11 de fevereiro de 1990, a libertação de Nelson Mandela e a retirada da ilegalidade do CNA (Congresso Nacional Africano). Em 1993, Nelson Mandela e o presidente Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz, pelos esforços em acabar com a segregação racial na África do Sul.

Em 1994, Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul. Governou o país até 1999, sendo responsável pelo fim do regime segregacionista no país e também pela reconciliação de grupos internos.

Com o fim do mandato de presidente, Mandela afastou-se da política dedicando-se a causas de várias organizações sociais em prol dos direito humanos. Já recebeu diversas homenagens e congratulações internacionais pelo reconhecimento de sua vida de luta pelos direitos sociais.

Azoilda Loretto da Trindade


Fragmentos de um
discurso sobre afetividade
Por Azoilda Loretto da Trindade
 O destaque ao cotidiano escolar se dá por ser o campo de ação direta deste projeto.
Como todos os textos, também este tem uma memória. Vamos iniciá-lo 
contando sua história.
Quando percebemos a demanda de uma reflexão acerca da afetividade 
num projeto que visa à implementação da História e cultura africanas e 
afro-brasileiras nos currículos escolares, tínhamos em mente sensibilizar 
os/as professores/as quanto a seu papel de promotores/as da qualidade de 
vida afetiva das crianças negras no cotidiano escolar. Afinal, as crianças e, 
por ampliação, os/as jovens negros/as são os alvos principais do racismo 
da nossa sociedade. Baseados na Teoria da Curvatura da Vara, acreditávamos que, para reverter o quadro de exclusão, subalternização e invisibilidade desses jovens e crianças, e de sua história e cultura, precisaríamos focar 
nossa atenção neles por um tempo, até que as histórias e memórias coletivas de seus grupos sociais e culturais fossem valorizadas.
A realidade é complexa, e o conhecimento e sua construção não se dão linearmente, mas em fluxos, movimentos, redes e conexões, nas relações entre as pessoas e o mundo. 
Se o racismo produz problemas de afetividade nas pessoas, e se ele está em 
toda a sociedade, todas as pessoas, independentemente da cor da pele, são, a 
priori, passíveis de sofrer suas mazelas. Nosso enfoque passa a ser as crian-
ças e jovens estudantes e seus/suas professores/as. Afinal, a afetividade e seus 
complicadores e facilitadores não se limita a tal e qual grupo social, mas a todos que fazem, conscientemente ou não, o cotidiano escolar
Mudamos nosso trajeto, mas com a convicção da importância do tema para 
as relações humanas, para as relações pedagógicas, para o ensino da Histó-
ria e cultura africanas e afro-brasileiras no cotidiano escolar, pela percepção 
da necessidade de dar relevância aos afetos, emoções e sentimentos no trato 
com o outro e consigo mesmo, e porque a afetividade nos faz humanos.
Escolhemos um conto de Eduardo Galeano, O Mundo, que, para nós, é ilustrativo da dimensão da afetividade que pretendemos abordar:
Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da 
Colômbia, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha 
contemplado, lá do alto, a vida humana. 
E disse que somos um mar de fogueirinhas.
O mundo é isso – revelou. Um montão de gente, 
um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas 
as outras. Não existem duas fogueiras iguais. 
Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas 
de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, 
que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, 
que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos 
bobos, não alumiam nem queimam; mas outros 
incendeiam a vida com tamanha vontade que é 
impossível olhar para eles sem pestanejar, 
e quem chegar perto pega fogo.
Galeano, 2000.
Em outras palavras, porque o mundo é um montão de gente, um mar de fogueirinhas e para que as fogueirinhas existam, queimem, sejam calmas ou 
tenham a intensidade capaz de incendiar outras pessoas, é fundamental a 
nossa afetividade. Porque afetividade tem relação direta com o influenciar e 
ser influenciado, potencializar, possibilitar. Porque afetividade está relacionada ao gostar de gente, propiciar encontros, contatos, afetos e afetações. 
Porque afetividade nos reporta ao corpo e porque os corpos são potências, 
possibilidades, amorosidade. A afetividade é uma manifestação corporal, 
uma expressão corporal fundamental para os encontros, contatos, para as 
expressões de desejos, pensamentos individuais e coletivos, de emoções as 
mais diversas, de sentimentos como amor, ódio, cuidado. Em síntese, a forma, a maneira como estou/sou no mundo afeta o mundo, as pessoas.
A nossa afetividade (os afetos, sentimentos, emoções) se manifesta via nosso corpo, que circunscreve nossos sentimentos, nossas percepções: um toque, uma carícia, um aperto de mão, um afago, uma música, uma grosseria, a leitura de um poema, uma brincadeirinha, um xingamento, um encontro, um desencontro, uma agressão... Citando Madalena Freire:
Não basta ter um corpo, é necessário senti-lo, 
amá-lo, cuidá-lo respeitosamente, conhecê-lo, 
vivê-lo na totalidade, para que possamos, 
na relação com o outro, assumir com autoria 
o que somos, sentimos, desejamos, pensamos, 
fazemos com nosso corpo, nossa vida, nossa 
história. 
Freire, 2000.
Autores/as de nossa vida e de nossa história, aqui temos um ponto de força 
do nosso lugar como educadores, na medida em que nos sabemos importantes, significativos no processo de valorização do aspecto afetivo na nossa relação com o universo escolar. Entra em jogo a auto-estima dos/das docentes e a consciência da importância da nossa ação como possibilitadora 
de ações promotoras de relações afetivas ricas, respeitosas e “cuidantes”, na 
nossa prática cotidiana. Explicando melhor, em nossas andanças pelo Brasil, conversando com professores/as, percebemos quase uma unanimidade 
quanto às memórias dos tempos de escola, traumáticas no que se refere à 
discriminação. Tais relatos fortalecem nossa concepção da importância de 
as ações docentes estarem política, teórica, afetiva e eticamente comprometidas com uma educação sem discriminações, sem racismos, uma educação 
efetivamente igualitária e acolhedora para todos.
A título de ênfase, destacamos um fragmento do documentário  Olhos 
Azuis. Nós o utilizamos com muita freqüência, sempre que há possibilidade, por sua atualidade e porque enfatiza a importância de ações educativas 
anti-racistas e inclusivas da diversidade humana. O documentário aborda 
uma pesquisa-ação da professora e pesquisadora Jane Elliott, que, através 
de workshops sobre racismo, leva pessoas brancas de olhos azuis a vivenciarem, por cerca de três horas, o que os cidadãos negros dos Estados Unidos 
da América do Norte vivem durante a vida inteira. 
■  Experiências que ficam na memória 
Quando as memórias são afro-brasileiras,
o sabor traumático ganha um tom especial.
“Fui discriminada porque era magra”; “Eu, por ser gorda, era chamada de 
balofa”; “Eu tinha vergonha das minhas espinhas”; “Eu era chamada de 
branca azeda, e isso me fazia muito triste”; “Eu achava que era muito feia, 
pois nunca tinha gente da minha cor nos murais”; “Uma vez, um menino 
negro muito bom aluno foi impedido de ser do pelotão da bandeira. A diretora disse que um branquinho era mais bonito”; “Eu odiava as festas, pois 
os garotos nunca me tiravam para dançar”; “Quando a professora falava de 
escravidão, eu morria de vergonha, queria me esconder embaixo da carteira, pois toda a turma se virava para olhar para mim”. 
■  Palavras que dizem tudo
O diálogo registrado em um dos workshops de Jane Elliot é revelador. 
Eis um fragmento:
“Eu quero que toda pessoa branca neste auditório, que gostaria de ser tratada da mesma maneira que a sociedade trata os cidadãos negros, se levante.” (Pausa)
“Vocês não entenderam. Se vocês, brancos, querem ser tratados do modo 
como os negros são tratados, levantem-se.” (Mais uma pausa) Ninguém 
se levantou.
“Isso deixa claro que vocês sabem o que está acontecendo. Vocês não querem isso para vocês. Quero saber por que, então, aceitam isso e permitem 
que aconteça com os outros.”
Nós, educadores e educadoras, temos responsabilidade social... e, oxalá, 
sensibilidade para com a dor e o sofrimento do outro, cuidado e atenção 
para com as necessidades existenciais do outro.
No intuito de potencializar a necessidade de levar em consideração, de maneira crítica, a afetividade no cotidiano escolar como fator importante para 
a compreensão do humano, deparamo-nos com outro aspecto relevante 
para essa compreensão: a complexidade humana.
Destacamos um trecho de um texto do filósofo francês Edgar Morin, que 
nos apresenta uma visão bem interessante:
O ser humano é um ser racional e irracional, 
capaz de medida e desmedida; sujeito de 
afetividade intensa e instável. Sorri, ri, chora, 
mas sabe também conhecer com objetividade; 
é sério e calculista, mas também ansioso, 
angustiado, gozador, ébrio, extático; é um ser 
de violência e de ternura, de amor e de ódio; 
é um ser invadido pelo imaginário e pode 
reconhecer o real; que é consciente da morte, 
mas que não pode crer nela; que secreta o mito 
e a magia, mas também a ciência e a filosofia; 
que é possuído pelos deuses e pelas Idéias, 
mas que duvida dos deuses e critica as Idéias; 
nutre-se dos conhecimentos comprovados, mas 
também de ilusões e de quimeras. 
Morin, 2001:59
Ao trazermos essa visão, queremos sinalizar que, ao fragmentar o ser humano, priorizando um aspecto da nossa complexa humanidade em detrimento de outro, estamos inserindo-o numa rede de infinitas possibilidades de composição da nossa existência terrestre. Na trajetória de afirmar 
de forma crítica, não-psicologizante, não-individualista e não-reducionista das pessoas, dos sujeitos concretos que compõem o cotidiano das nossas 
instituições educativas, da importância da dimensão afetiva, nos lembra-
mos de René Spitz
 (1887-1974), com seus estudos acerca da importância do 
afago físico na sobrevivência dos bebês: 
(...) Crianças, sem amor, terminarão como 
adultos cheios de ódio. 
Spitz, 1799: 263
Gonzaguinha, com sua canção É, também aborda o tema:
A gente quer carinho e atenção
A gente quer calor no coração
(...)
A gente quer viver a liberdade
A gente quer viver felicidade
Humberto Maturana
 é um biólogo chileno que põe em evidência a cooperação, em contraposição à visão dominante da competição como algo que 
legitima a destruição e a subjugação do outro. Ele eleva o amor e o brincar 
à categoria de algo fundamental para a vida:
A emoção fundamental que torna possível a 
história da hominização é o amor. Sei que o que 
digo pode chocar, mas insisto, é o amor.(...) 
O amor é constitutivo da vida humana, mas não é 
nada especial. O amor é o fundamento do social, 
mas nem toda convivência é social. O amor é a 
emoção que constitui o domínio das condutas em 
que se dá a operacionalidade da aceitação do outro 
como legítimo outro da convivência, e é esse modo 
de convivência que conotamos quando falamos 
do social. Por isso, digo que o amor é a emoção 
que funda o social. Sem a aceitação do outro na 
convivência, não há fenômeno social. 
8 Sem abdicar da nossa visão crítica.
9 Emoções e Linguagens na Educação e na Política. BH: Editora UFMG, 1998, pp. 23-24.107
Madalena Freire evidencia aspectos como a História, a memória, o corpo, 
a experiência, a coletividade e toda a sua carga amorosa/afetiva como fundamentais para as práticas educativas: 
Somos o que somos. 
Somos o que sentimos.
Somos o que pensamos.
Somos o que desejamos.
Somos o que fazemos, mediados por gestos 
e movimentos.
Somos nosso corpo.
Carregamos em nosso corpo as marcas de nossos 
sentimentos, crises, conquistas, impasses, 
nossa história.
Outro exemplo é a música Comida, dos Titãs:
A gente não quer só comer, 
A gente quer comer e quer fazer amor 
A gente não quer só comer, 
A gente quer prazer pra aliviar a dor 
A gente não quer só dinheiro, 
A gente quer dinheiro e felicidade 
Regina Leite Garcia desenvolve pesquisas sobre o cotidiano e suas redes de 
significações e complexidade, a favor da educação das crianças das classes 
populares. Pesquisas e produções que denunciam preconceitos e exclusões, 
discriminações das crianças, de suas famílias e histórias, e anunciam trabalhos carregados de amorosidade, compromisso político e qualidade pedagógica, construtores de uma educação para todos.
10 http://www.pedagogico.com.br108
Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez, as geledés
, intelectuais negras de ontem e de hoje, dedicam suas vidas à produção teórico-prática de denúncia 
contra o racismo e as injustiças sociais, e à implementação de ações coletivas 
favorecedoras de um Brasil e de um mundo de respeito, acolhimento, amorosidade, felicidade e justiça. Abaixo, declaração de Sojourner Truth, feminista afro-americana, ex-escrava, em Akron, Ohio, Estados Unidos, 1851. 
Aquele homem diz que as mulheres precisam ser 
ajudadas a entrar nas carruagens, serem erguidas 
acima das fossas e terem os melhores lugares onde 
quer que seja. Ninguém jamais me ajudou a entrar 
em carruagens, erguer-me acima das poças de 
lama ou ofereceu-me o melhor lugar! E não sou eu 
uma mulher? Olhe para mim! Olhe para meu braço! 
Eu arei, plantei, recolhi as colheitas nos celeiros 
e nenhum homem me guiou! E não sou eu uma 
mulher? Eu pude trabalhar e comer tanto quanto 
um homem – quando me foi dada a oportunidade 
de ter isto – e agüentar as chicotadas! E não sou eu 
uma mulher? Eu pari treze filhos e vi a maioria deles 
serem vendidos como escravos, e quando eu chorei 
com minha aflição sobre o túmulo de minha mãe, 
ninguém, além de Jesus, ouviu-me! E não sou eu 
uma mulher?
Uma das mais importantes intelectuais e ativistas negras do século XX, 
Gloria Jean Watkins, conhecida pelo pseudônimo Bell Hooks, observou:
Muitas vezes, o trabalho intelectual leva ao confronto com duras realidades. Pode nos lembrar que a dominação e a opressão continuam a mol-
11  Geledé é originalmente uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso, existente nas sociedades 
tradicionais iorubás. Expressa o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem-estar da 
comunidade. Fonte: www.geledes.org.br.
12  COLLINS, Patricia Hill. 1990. Black Feminist Thought Knowledge, Counsciosness and the Politics of Empowerment. Boston: Unwin Hyman, p. 14. Apud Sant’Anna, Wania, in História de Vida e de Organização Política: 
Mulheres Negras na Construção do Conhecimento (mimeo).109
dar as vidas de todos, sobretudo das pessoas negras e mestiças. Esse trabalho não apenas nos arrasta para mais perto do sofrimento, como nos faz 
sofrer. Andar em meio a esse sofrimento para trabalhar com idéias que 
possam servir de catalisadores para a transformação de nossa consciência e nossas vidas, e de outras, é um processo prazeroso e extático. Quando o trabalho intelectual surge de uma preocupação com a mudança social e a política racial, quando esse trabalho é dirigido para as necessidades 
das pessoas, nos põe numa solidariedade e comunidade maiores. Enaltece 
fundamentalmente a vida (Hooks, 1995: 477-478).  
Se o diálogo com todas essas pessoas não foi suficiente para pensarmos 
e acreditarmos conscientemente na importância e na vitalidade que a dimensão afetiva pode trazer ao nosso cotidiano, convidamos você a pegar o 
fio da sua memória escolar e tecer algumas lembranças, recordar o que significam acontecimentos como: 
■  A voz afetuosa ou o olhar acolhedor da professora ou do colega que 
o convidou a sentar ao seu lado no primeiro dia de aula; 
■  A mão segura do/da inspetor/a ou da/do servente da escola que o 
carregou e cuidou do machucado resultante do tombo que você levou 
durante o pique-esconde; 
■  O grito histérico da professora desesperada com sua incapacidade de 
ensiná-lo a armar e efetuar uma operação matemática; 
■  O constrangimento quando sua trança desmancha, seus colegas 
riem de você e sua professora simplesmente ignora o fato, ou seja, 
seu sofrimento; 
■  A alegria quando você aprende uma lição e sua professora sorri com 
você de felicidade. 
Recorde aquela alegria que faz seu coração acelerar, tamanha a força da 
lembrança, e recorde também aquela dorzinha que, ao retornar, traz com 
ela uma lágrima. Recorde, recorde e descubra-se um/a educador/a que, parafraseando Eduardo Galeano, queima ou pode queimar a vida com tamanha intensidade que quem chegar perto pega fogo. Afinal, como nos ensina Bell Hooks:110
(...) Para restaurar a paixão pela sala de aula ou 
para estimulá-la na sala de aula, onde ela nunca 
esteve, nós, professores e professoras, devemos 
descobrir novamente o lugar, o Eros dentro de 
nós próprios e, juntos, permitir que a mente e o 
corpo sintam e conheçam o desejo.
Hooks, 1995: 
Para concluir, um conto
 da cultura iorubá de antes, muito antes de o filó-
sofo Edgar Morin nos contar da riqueza e divindade de cada ser humano, 
da diversidade e da complexidade humana. É um conto significativo para 
firmar alicerces importantes para se pensar a afetividade no cotidiano escolar. Uma afetividade crítica, eticamente comprometida com a vida, com 
a acolhida do outro, independentemente da sua orientação sexual, política, 
da sua religião, raça/etnia, classe social... já que acreditamos que todos nós 
somos subtraídos da nossa  humanidade, das raízes que garantem nossa inteireza humana cada vez que, por conivência, passividade, medo, crueldade, perversidade, desamor, silenciamos diante de qualquer manifestação de 
racismo ou injustiça social. Vamos ao conto/mito:
(...) Olodumare, que é um deus iorubá, quis criar a 
Terra e deu um punhado dela, num saquinho, para 
Obatalá ir criá-la. Antes de ir, Obatalá teria que 
fazer a oferenda a Exu
, pois sem movimento não 
há ação. Obatalá, que é muito velho, esqueceu e 
foi andando, andando devagarinho, e no caminho 
sentiu sede. Então viu uma árvore, dessas que têm 
água dentro, e parou, abriu a planta e bebeu. 
Só que era uma bebida que dava um pouco de 
tontura, e então ele deitou debaixo da árvore e 
acabou dormindo.
Enquanto isso, Odudua, que também queria criar 
Iorubá
Os iorubás constituem um
dos três maiores grupos étnicos 
da República da Nigéria. 
Vivem no oeste do país, 
espalhando-se para dentro 
do território da República 
do Benin, até o Togo e, no 
sudoeste, até a cidade de 
Lagos. O etnônimo iorubá 
originalmente designava 
apenas o povo de Oyó, mas 
hoje nomeia vários subgrupos 
populacionais. Fonte: 
Enciclopédia Brasileira da 
Diáspora Africana, 
de Nei Lopes.
13   Recontado por Heloisa Pires Lima em Histórias de Preta. São Paulo: Cia. das Letrinhas, 1998, p. 61.
14  Divindade que, ao contrário das visões preconceituosas e racistas a respeito da cultura negra, representa, na 
cosmovisão iorubá, a transformação, a comunicação, os encontros, a contradição, o movimento.111
a Terra, fez as oferendas a Exu e alcançou Obatalá. 
Vendo-o dormir, achou que ele iria se atrasar 
muito, pegou o saquinho e foi ele mesmo criar a 
Terra. E criou.
Obatalá acordou e viu a Terra criada, e foi reclamar 
para Olodumaré, que enviou e deu a ele barro, 
para que criasse os homens na Terra. Obatalá foi e 
criou os homens, mas de vez em quando tomava a 
bebida da árvore, de que tinha gostado, e ... não 
chegava a dormir, mas, meio tonto, fazia uns seres 
humanos [de todos os tipos].
Todos, exatamente todos os tipos de seres humanos, de qualquer nacionalidade, etnia, cor, características físicas e psíquicas, orientação política, religiosa, sexual, classe social, portadores/as de necessidades especiais ou não, 
são obras divinas, todos são expressão criativa de uma divindade. Todas as 
pessoas, com suas características as mais diversas e contraditórias, têm o 
direito de viver e conviver na Terra, não sem conflitos, encontros, desencontros, diálogos, afetos e desafetos, movimentos, mas têm direito pleno a 
desfrutar da beleza da vida.
Axé!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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464-478.
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pp. 113-123.
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                     . (org.) . O Corpo que Fala Dentro e Fora da Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
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