quinta-feira, 27 de junho de 2013

O QUE FAZER PEDAGOGICAMENTE COM A DIVERSIDADE NA SALA DE AULA.

           O QUE FAZER PEDAGOGICAMENTE COM A DIVERSIDADE NA
                                   SALA DE AULA
   "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda
                                                                     por sua religião.
     Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser
                                                                  ensinadas a amar.”
                                                                     Nelson Mandela

         Cara/o colega educadora/r, estamos iniciando uma nova caminhada e
com ela todas as possibilidades e desafios que lhe são inerentes.
         Durante o ano que passou, tivemos a oportunidade de conhecer e
admirar inúmeros trabalhos desenvolvidos com excelência e muito empenho de
diversas escolas da rede estadual de ensino do Paraná e, sem dúvida alguma,
isso nos enche de orgulho. Nesse contato direto com professoras/es, também
recebemos a solicitação de que temas como a diversidade fossem discutidos
durante a semana pedagógica por todo o corpo docente em conjunto com
funcionárias/os.
         É de conhecimento de todas e todos que a educação deve ser
contextualizada, considerando a/o estudante como sujeito, protagonista de sua
formação, como ser humano e cidadã/ão, isto é, colocando as/os alunas/os
com seus limites e possibilidades no centro do processo, buscando a
construção contínua e processual de sua própria autonomia.Também sabemos
que há uma nítida associação entre preconceito e discriminação com o
desempenho escolar, conforme revela a pesquisa realizada pela FIPE –
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, por solicitação do INEP –
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, em 2009, com base
nos dados da Prova Brasil de 2007. Nas escolas em que se observou maior
conhecimento de práticas discriminatórias vitimando funcionárias/os e
professoras/es, as avaliações foram menores. Nas escolas em que as/os
alunas/os apresentaram maiores níveis de preconceito, as avaliações também
foram menores. Essa pesquisa nos mostra, que onde há preconceito e
discriminação, todas e todos são prejudicadas/os,
         Não obstante se saiba da necessidade e vontade de combater o
preconceito e a discriminação, há uma grande questão que anseia muitas/os
educadoras/es: O que fazer com a diversidade na sala de aula?
         Questões como: Por qual nome devo chamar ou qual banheiro a/o
transexual deve usar? O que fazer quando uma/um aluna/o é chamado de
apelidos pejorativos que se relacionem a sua raça ou etnia? Qual procedimento
adotar quando se matricula uma/um estudante cigana/o? As/os alunas/os do
campo precisam das mesmas informações que as/os alunas/os da cidade? A
qualidade de ensino das escolas da ilhas pode ser inferior a das demais?
Podemos dispensar da aula alunas/os que estão em feriados ou eventos
religiosos não católicos? O que e em qual língua uma/um indígena precisa
aprender? Devemos falar de indígenas somente em escolas indígenas? Da
população campo, somente nas escolas do campo? De quilombolas somente
em escolas quilombolas? Devo parar de dar aula da minha disciplina para
ensinar sobre a cultura indígena e africana?
         Essas e centenas de outras perguntas e dúvidas dificultam o dia-a-dia
escolar e ao não respondê-las excluímos, muitas vezes, do processo educativo
milhares de estudantes.
         Este texto não pretende, e nem poderia, dar resposta a todas as
dúvidas sobre o tema, mas afirmar que a diversidade deve ser vista como um
ponto positivo e não uma dificuldade. A diversidade não é um problema, ela é
uma riqueza!
         As pessoas diferem entre si, têm histórias diferentes, famílias
diferentes, personalidades diferentes e irão reagir às influências recebidas e ao
processo educativo, de formas diferentes. Essa diferença nos remete a uma
rica pluralidade, pois embora diferentes, somos iguais em nossos direitos.
Mulheres e homens são diferentes entre si, indígenas, negros ciganos e
brancos são diferentes entre si, heteros e homossexuais, são diferentes entre
si, jovens e idosos são diferentes entre si, mas todas e todos são iguais em
direito. É esta riqueza plural que deve ser valorizada e compartilhada e sempre
contemplada no projeto pedagógico.
         Tão importante quanto assegurar o direito a educação desses sujeitos
é reconhecer e valorizar as diferenças de gênero, raça/etnia, cultura, religião,
etc, e enfrentar e combater as desigualdades.
         Nosso objetivo é despertar o interesse sobre a diversidade e fazer com
que todas/os as/os educadoras/es (professoras/es, funcionárias/os e
gestoras/es) busquem uma formação maior para lidar com essas questões, e
tenham na Secretaria de Estado da Educação a grande aliada para juntos
encontrarmos soluções para que possamos garantir o acesso e a permanência
desses sujeitos, isto é, o direito a educação.
         Estamos falando de uma educação que realmente aconteça para todas
e todos. Em se tratando dos sujeitos da diversidade, precisamos fazer uma
pequena contextualização.
         O Ministério da Educação criou em 2004, a SECAD, hoje SECADI –
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão,
com o objetivo de abrir uma discussão nacional sobre os sujeitos a inclusão
educacional e consequentemente, social dos sujeitos da diversidade, além de
abrir uma agenda de discussão sobre as situações de risco e vulnerabilidade
social a que estes sujeitos estão expostos. Em 2007, a SEED criou o DEDI –
Departamento da Diversidade, que atua na defesa e promoção dos direitos
humanos dos sujeitos da diversidade: povos indígenas; ilhéus e ribeirinhos,
trabalhadoras/es rurais e sem Terra, pequenas/os agricultoras/es,
cipozeiras/os, as/os faxinalenses, pescadoras/es, acampadas/os e
assentadas/os; ciganas/os; povos das comunidades remanescentes de
quilombos e população negra; mulheres e homens (lésbicas, gays, bissexuais,
travestis, transexuais e heterossexuais), discriminados pela sua cor, raça,
etnia, orientação sexual, gênero e condição social e cultural .
         A missão do departamento é dar visibilidade aos sujeitos, despertando
o interesse pelos temas da diversidade e desenvolver competências e valores
de solidariedade, cooperação, respeito e união.
         Atualmente o Departamento da Diversidade encontra-se estruturado
em seis equipes técnicas: Coordenação Pedagógica; Coordenação da
Educação Escolar do Campo; Coordenação da Educação Escolar Indígena;
Coordenação da Educação das Relações da Diversidade Étnico-Racial e
Coordenação da Educação das Relações de Gênero e Diversidade Sexual, e
Coordenação do Projovem Urbano.
         Ao longo do trabalho que este departamento vem fazendo, muitas
ações foram desenvolvidas, como: a instituição das equipes multidisciplinares,
com o intuito de fazer a implementação das Leis Federais 10.639/03 e
11.645/08, visando incorporar as dimensões da História e Cultura Afro-
brasileira, Africana e Indígena no currículo de educação básica e nas práticas
político-pedagógicas das/os educadoras/es; a normatização da utilização do
Nome Social de travestis e transexuais nos registros escolares, em nossa rede;
planejamentos de formação continuada; produção de material; elaboração e
implementação de marcos legais que normatizem a política educacional para a
diversidade; realização de editais de contratação específicos para as
populações do campo, indígenas e quilombolas; organização de ensino
profissionalizante específico para a população indígena; implementação do
projeto de protagonismo juvenil; convênios para o desenvolvimento de
programas e projetos educacionais específicos para a juventude.
         Entre tantas outras ações, a SEED através do DEDI, vem
implementando essas políticas públicas afirmativas com vistas à
universalização da Educação Básica prevista em legislação e também como
uma prática de inclusão educacional, considerando a importância da garantia
de uma escola pública e de qualidade para todas e todos.
         Sabemos que muitos trabalhos com grande compromisso e com muita
seriedade já foram desenvolvidos, mas também sabemos que muito há que se
melhorar no suporte que as escolas precisam.
         Então o que fazer com a diversidade no processo educacional?
         É importante que tenhamos bem definido que o processo educacional
não acontece apenas durante o período de uma determinada disciplina. O
processo educacional se dá desde o momento em que a/o estudante ou sua/eu
responsável vai fazer a matrícula. Como essas/es estudantes são recebidos ao
chegar na escola, ao receber a merenda, na biblioteca, pelas/os colegas, como
a equipe pedagógica e administrativa auxilia na mediação ou resolução de
conflitos, as ações que são tomadas de forma preventiva ou para resolver
casos de preconceito ou discriminação, se as/os responsáveis pelas infrações
são punidas/os, se há o mesmo tipo de tratamento para todas as pessoas, se
casais hétero ou homossexuais têm as mesmas liberações ou proibições.
         Pouco adianta falarmos em sala de aula que todas e todos têm direitos
iguais, quando na prática, mostramos às/aos estudantes que agimos de
maneira desigual.
         Portanto, todos os sujeitos da escola são educadoras/es, mesmo que
não lecione nenhuma disciplina. E é imprescindível que o planejamento e a
implementação das ações de toda a escola para o enfrentamento e superação
de todas as formas de preconceito e discriminação seja feito de forma coletiva.
         Essa definição é fundamental para compreendermos que é possível
que nossos alunos gays não consigam se concentrar porque não usaram o
banheiro por medo de repressão, ou que nossas/os alunas/os que vêm do
campo não são preguiçosas/os, mas passaram muito tempo no transporte
escolar e já chegam à escola cansadas/os, ou várias outras situações. É
preciso muita criatividade, energia e habilidade das/os educadoras/es, para
apostar no potencial das/os estudantes e para fazê-las/os ver e crer que vale a
pena buscar alternativas de inserção social.
        Cabe a todas/os as/os educadoras/es buscar informações que possam
complementar, basear, figurar, reforçar, o conteúdo disciplinar em sala de aula.
        Dados sobre todos os sujeitos da diversidade podem e devem ser
explorados e trabalhados pelas diferentes ciências da forma mais adequada a
cada realidade escolar. As fontes de pesquisas desses dados, também são
diversas. Institutos de pesquisa como IBGE, INEP, IPEA, IPARDES, FIPE,
outras instituições como UNESCO, OMS, as próprias secretarias estaduais, de
educação, saúde, de relações com as comunidades, etc.
        Podemos utilizar dados como: 28,6% da população do Paraná é negra;
que 25% das mães que tiveram bebês em 2010, têm entre 10 e 19 anos; 90%
das/os jovens entre 15 e 29 anos morrem de causas não naturais; 60% dos
jovens presos no país são negras/os; que tivemos 539 novos casos de AIDS,
no Paraná, em 2010; temos aproximadamente 15 mil indígenas no nosso
estado, divididos em 3 etnias: Kaingang, Guarani e Xetá; temos 36
comunidades quilombolas certificadas; em 2009, dos 198 casos de homicídios
de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, registrados no
Brasil, 25 casos foram no Paraná, em 2010 dos 240 casos brasileiros, 17
ocorreram no Paraná; em 2010 o Centro de Referência de atendimento a
violência contra a mulher da Região Metropolitana de Curitiba atendeu 246
mulheres em situação de violência doméstica; em 2010 foram registrados
12487 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, segundo
dados do disque 100 no Brasil, em 2011, apenas no primeiro trimestre, foram
registrados 4205 casos, a cada 8 minutos uma criança é vítima de abuso
sexual no Brasil; que há aproximadamente 5500 alunas/os em escolas de
assentamento; crianças indígenas são queimadas por madeireiros; das quase
2200 escolas da rede estadual de ensino do Paraná, mais de 600 são escolas
do campo;
        Enfim, cada uma dessas informações e tantas outras que são
atualizadas constantemente, podem ser exploradas através de gráficos,
tabelas, textos informativos para leitura ou produção, pelo seu aspecto
geográfico, sociológico, histórico, filosófico, artísticos, biológicos, etc.
        Ao ensinar poesia, ou para uma simples atividade de resolução de
problemas ou interpretação textual, dados como esses podem servir de base,
um texto sobre a população indígena, uma poesia de uma/um escritora/r
negra/o. Não devemos falar sobre a população negra apenas em novembro,
assim como não devemos falar sobre indígenas, apenas em abril.
        As atividades para o trato positivo da diversidade devem se dar em
duas frentes: uma que é o combate e enfrentamento a todas as formas de
preconceito e discriminação; e a outra, que é voltar o olhar para o respeito e
admiração a todas as contribuições que negras/os, ciganas/os, indígenas,
gays, lésbicas, ilhéus, assentadas/os, enfim, todos os chamados sujeitos da
diversidade, já fizeram e ainda fazem para a construção de nosso país.
Precisamos ensinar a amar, como nos disse Nelson Mandela, e para amar,
precisamos conhecer.
        Professora/r, funcionária/o e/ou gestora/r lembrem-se que vocês devem
exercer direitos e deveres da cidadania, participar de processos e instituições
que caracterizam a vida pública numa sociedade democrática e continuar
aprendendo ao longo da vida, tanto pela inserção no sistema de ensino formal
quanto pela identificação e o aproveitamento de outras oportunidades
educativas, porque também é pelo modelo que educamos.
         Vocês já perceberam como nossa expectativa a respeito do seu
trabalho como professora/r, funcionária/o e/ou gestora/r, é grande. Por isso
estamos fazendo nossa parte com muita atenção, respeito e carinho e
queremos que vocês nos ajudem a aprimorar essa relação por meio do seu
trabalho em todos os ambientes da escola, nos momentos de formação
continuada presencial ou a distância, nas consultas públicas ou ainda nos
enviando sugestões. Sempre com a responsabilidade, competência, seriedade,
que lhes são inerentes e de forma integrada ao nosso. É nessa perspectiva que
pensamos esse texto inicial. Já há muito material publicado no site do dia-a-dia
educação sobre esses temas, inclusive os cadernos temáticos que já foram
distribuídos para as escolas, mas cada unidade escolar pode entrar em contato
com seu núcleo regional e fazer a solicitação de materiais e/ou de formações
para o coletivo de educadoras/es.
         Haverá ainda, muitas formações em ação, muitos momentos e espaços
de discussão e muita construção coletiva, sempre priorizando o maior objetivo
da educação: o direito da/o estudante em aprender. Afinal, estamos aqui para
fazer juntos, a educação do Paraná, ser a melhor educação do Brasil.
Contamos com todas e todos nesse processo do trato positivo da diversidade.
         Questões orientadoras
         1.        Façam uma análise sobre quais as formas de preconceito e
                   discriminação como racismo, machismo e homofobia que
                   existem na sua escola. Em que as/os educadoras/es
                   contribuem positiva e/ou negativamente nessas situações?
                   Qual é o meu nível de preconceito e discriminação pessoal?
                   Quando uma/um educadora/r faz um elogio ou uma piadinha
                   sobre uma/um estudante, como as/os demais reagem?
         2.        As/os educadoras/es estão preparadas/os para lidar
                   legalmente com essas situações? Onde buscar informações
                   e amparo legal para as providências necessárias a serem
                   tomadas nesses casos?
         3.        Pedagogicamente, trabalhamos com a construção coletiva
                   disciplinar voltada para o desenvolvimento dos saberes,
                   competências, conhecimentos e valores de solidariedade,
                   respeito e cooperação condizentes com o trato positivo da
                   diversidade?
         4.        Que plano de ação vamos traçar, visando superar todas as
                   formas de preconceito e discriminação em nossa escola?
                   Qual o papel de cada um nós, nesse plano?

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Curso de Capacitação para Agentes I e II sobre a História da Cultura Africana - Lei n 10.639


CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA AGENTES  I e II 
Sobre Cultura Afro - Lei 10639 - Preconceito - Oficina de Pulseiras Afro  recicláveis
Promovida pelo Núcleo de Educação de Francisco Beltrão nos dia 12 - 14 - 18 - 20
Colégio Estadual  Humberto de Campos- Santo Antonio do Sudoeste
Colégio Estadual de Renascença
Colégio Estadual Reinaldo Sass  Francisco Beltrão
Colégio Estadual Rocha Pombo de Capanema
Palestrante: Helena Zajaczkowski





terça-feira, 28 de maio de 2013

Alguém falou de racismo?


Se caso não abrir a parte 2 veja no You Tube

PROJETO: RESPEITO À DIVERSIDADE NA ESCOLA

Projeto: Respeito à diversidade na escola

Objetivos
- Geral Estimular intervenções individuais e coletivas contra atitudes preconceituosas.
- Para a equipe diretiva e a coordenação pedagógica Criar condições necessárias para que as ações sejam realizadas.
- Para os professores Definir conteúdos, atividades e abordagens metodológicas que tratem a cultura negra de modo transdisciplinar.
- Para os alunos Compreender a diversidade étnico-racial e respeitá-la.
- Para os funcionários Participar de ações educativas que visam melhorar o comportamento de todos com relação à diversidade.
- Para os pais Colaborar com as ações propostas pela escola e, assim, desenvolver atitudes de respeito à diversidade étnica e racial.

Conteúdos de Gestão Escolar
- Administrativo Levantamento dos perfis dos alunos, elaboração de questionários, tabulação dos dados e organização de atividades.
- Comunidade Estímulo à reflexão sobre o tema.
- Aprendizagem Estudo da cultura afrobrasileira e das semelhanças e diferenças entre grupos étnicos existentes na escola. Elaboração de estratégias de combate à discriminação para a formação continuada dos professores.

Tempo estimado
Um ano.

Material necessário
Livros didáticos e de literatura, filmes, murais, sequências didáticas, caderno de anotações compartilhado entre todos, questionários de diagnóstico, acompanhamento e avaliação.

Desenvolvimento
1ª etapa Diagnóstico
Com base nas fichas de matrícula dos alunos e entrevistas iniciais feitas com os pais, prepare um levantamento do perfil dos alunos da escola. Reserve um horário de formação para apresentar aos professores esse material e leve também os relatos das atitudes preconceituosas observadas na escola sem dar nomes nem fazer julgamentos. Peça que todos respondam a um questionário com perguntas sobre a cultura negra e o modo como o racismo se manifesta. Todas as informações devem ser tabuladas e servirão de base para o planejamento pedagógico.

2ª etapa Participação dos funcionários 
Todos devem ser envolvidos no projeto desde o início. Marque uma reunião com os funcionários do serviço de apoio para falar sobre o trabalho que será desenvolvido na escola. Afirme que a participação deles é fundamental para que a escola se torne um lugar de respeito à diversidade. Peça que os diferentes grupos de funcionários escolham uma maneira de participar e elaborem uma ação pontual sobre o tema. No CMEB Mário Leal Silva, cada grupo ganhou um mural para desenvolver o trabalho. As merendeiras, por exemplo, preencheram o espaço com receitas africanas que passaram a preparar na cantina.

3ª etapa Envolvimento dos pais
As perguntas a respeito do racismo na escola devem ser feitas também aos pais para que eles relatem situações nas quais eles ou os filhos vivenciaram situações discriminatórias. Mande um questionário para que eles respondam em casa. Tabule os resultados e exponha-os em uma reunião do Conselho Escolar, onde todos podem debater o assunto e pensar em maneiras de evitar que atitudes preconceituosas voltem a ocorrer. Pelo menos duas vezes ao ano, promova um encontro de pais e peça que cada um traga elementos de sua cultura (como objetos de artesanato) para que sejam compartilhados com o grupo. Discuta a responsabilidade que todos têm na manutenção de um convívio sem preconceitos e exponha as ações que a escola desenvolve contra a discriminação.

4ª etapa Encontros de estudo
Com a análise dos diversos questionários que foram feitos, agende reuniões com a equipe pedagógica para discutir um plano de trabalho e elaborar propostas. No início, apresente um trecho de um filme que tenha alguma situação de preconceito. No CMEB Mário Leal Silva, a diretora, Mônica Louvem, apresentou O Triunfo, que trata da hostilização contra alunos pobres e negros e das ações de um professor para mudar isso. Debata as soluções encontradas pelo personagem. O obejtivo é fazer com que o grupo formule sugestões para serem colocadas em prática. Devem surgir algumas ideias, como eleger um dia da semana para o estudo de diferentes culturas - africana, europeia, oriental ou indígena - ou ainda promover momentos de leitura em conjunto com alunos e funcionários para a compreensão da diversidade étnica.

5ª etapa Definição de conteúdos disciplinares
Sob a orientação do coordenador pedagógico, os professores devem introduzir conteúdos ligados à cultura africana no planejamento das aulas, como a leitura de textos e a análise de pinturas e desenhos e a posterior produção (que pode ser exposta nos murais da escola). Outra sugestão é oferecer atividades pedagógicas no contraturno.

6ª etapa Documentação e acompanhamento
A equipe de gestão deve acompanhar de perto as atividades. Ao longo do projeto, os relatos de pais, funcionários e professores devem ser registrados em um caderno de anotações que será compartilhado entre todos. Os alunos podem documentar as medidas que consideram importantes para combater o preconceito. Sempre que houver manifestações de racismo, é importante fazer uma reunião com os envolvidos - sejam eles professores, pais, funcionários ou alunos. O diálogo entre as partes, com intermediacão de uma terceira pessoa, é a melhor solução para os problemas de discriminação.

Avaliação
As atitudes preconceituosas devem diminuir na escola. Ao fim de um período, toda a comunidade pode responder a um novo questionário: que contribuições o projeto está trazendo para o trabalho e o cotidiano? Que mudanças foram observadas? Quais atividades você considera de maior relevância? As respostas servirão de orientação para novas práticas.

EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO PARA AVALIAR COMO SUA ESCOLA ABORDA O RACISMO

Exemplo de questionário para avaliar como sua escola aborda o racismo

Adaptadas do modelo da CMEB Mário Leal da Silva, as perguntas abaixo auxiliam você a fazer um diagnóstico, junto aos professores e à equipe, de como as questões raciais são tratadas na sua instituição

Assinale a alternativa que corresponde à realidade do seu ambiente escolar
1. A trajetória histórica do negro é estudada:
A- No Dia da Abolição da Escravatura, em agosto, mês do folclore, e no Dia da Consciência Negra.
B- Como conteúdo, nas várias áreas que possibilitam tratar o assunto.
C- Não é estudada.
2. Acredita-se que o racismo deve ser tratado:
A- Pedagogicamente pela escola.
B- Pelos movimentos sociais.
C- Quando acontecer algum caso evidente na escola.
3. A cultura negra é estudada:
A- Como parte do rico folclore do Brasil.
B- Como um instrumento da prática pedagógica.
C- Quando é assunto da mídia.
4. O currículo:
A- Baseia-se nas contribuições das culturas europeias representadas nos livros didáticos.
B- Constrói-se baseado em metodologia que trata positivamente a diversidade racial, visualizando e estudando as verdadeiras contribuições de todos os povos.
C- Procura apresentar aos alunos informações sobre os indígenas e negros brasileiros.
5. O professor:
A- Posiciona-se de forma neutra quanto às questões sociais. É o transmissor de conteúdos dos livros didáticos e manuais pedagógicos.
B- Reavalia sua prática refletindo sobre valores e conceitos que traz introjetados sobre o povo negro e sua cultura, repensando suas ações cotidianas.
C- Tem procurado investir em sua formação quanto às questões raciais.
6. O trato das questões raciais:
A- É feito de forma generalizada, pois a escola não tem possibilidade de incidir muito sobre ele.
B- É contextualizado na realidade do aluno, levando-o a fazer uma análise crítica dessa realidade, a fim de conhecê-la melhor, e comprometendo-se com sua transformação.
C- Não é considerado assunto para a escola.
7. As diferenças entre grupos etnoculturais:
A- Não são tratadas, pois podem levar a conflitos.
B- Servem como reflexão para rever posturas etnocêntricas e comparações hierarquizantes.
C- São mostradas como diversidade cultural brasileira.
8. As situações de desigualdade e discriminação presentes na sociedade são:
A- Pontos para reflexão para todos os alunos.
B- Pontos para reflexão para os alunos discriminados.
C- Instrumentos pedagógicos para a conscientização dos alunos quanto à luta contra todas as formas de injustiça social.
9. Acredita-se que, para fortalecer o relacionamento, a aceitação da diversidade étnica e o respeito, a escola deve:
A- Promover o orgulho ao pertencimento racial de seus alunos.
B- Procurar não dar atenção para as visões estereotipadas sobre o negro nos livros, nas produções e nos textos do material didático.
C- Promover maior conhecimento sobre as heranças culturais brasileiras.
10. Quanto à expressão verbal:
A- Acredita-se que a linguagem usada no cotidiano escolar tem o poder de influir nas questões de racismo e discriminação.
B- Usam-se eufemismos para se referir a etnia dos alunos, para não ofendê-los.
C- A linguagem não tem influência direta nas questões raciais.
11. Quanto ao trabalho escolar:
A- Alguns professores falam da questão racial em determinadas etapas do ano letivo.
B- Existe resistência dos professores para tratar a questão racial com relação à luta contra todas as formas de injustiça social.
C- Existe um trabalho coletivo sobre a questão racial com a participação de todos, inclusive da direção e dos funcionários.
12. Quanto à biblioteca:
A- Existem muitos e variados livros sobre a questão racial que contemplam alunos e professores.
B- Existem alguns tipos de livros (dois ou três) que contemplam a questão racial.
C- Não existem livros sobre o tema.
13. Quanto à capacidade dos professores sobre a questão racial:
A- Algumas vezes no ano fazemos cursos ou grupos de estudo sobre a questão racial.
B- Ainda não tivemos a oportunidade de estudar a questão.
C- Procuramos incorporar o assunto nas discussões de reuniões pedagógicas, grupos de estudo e momentos de formação.
14. No trato das questões de gênero:
A- A homossexualidade é percebida e discutida no espaço escolar.
B- Há um trabalho efetivo de combate à homossexualidade na escola.
C- Não se considera a homossexualidade um assunto a ser discutido na escola.
15. As discussões sobre a questão da mulher:
A- Não se discute com os alunos a história da discriminação das mulheres na sociedade.
B- A situação feminina é tratada em momentos pontuais, como no Dia Internacional da Mulher.
C- A questão da mulher é amplamente discutida e incorporada aos conteúdos curriculares.
16. Quanto à abordagem sobre populações indígenas:
A- A temática é tratada considerando as informações de livros didáticos e no Dia do Índio. B- Existe resistência dos professores para trabalhar criticamente essa temática.
C- A escola procura romper com os estereótipos que inferiorizam a cultura destes povos.

Gabarito
Gabarito do questionário sobre o racismo na sua escola

Resultado:
Até 06 pontos
1- Fase da individualidade
A questão racial ainda é tabu na escola, que se mantém silenciosa quando o assunto é discriminação. A diversidade étnica é desconsiderada, mesmo que tenha muitos alunos de diferentes origens em sua escola. Enquanto isso, as crianças perdem a oportunidade de formar valores essenciais para uma convivência harmônica em sociedade. Que pena.
De 07 a 18 pontos
2- Fase da negação
Embora a maioria dos professores negue a existência do racismo na sociedade e no ambiente escolar, o assunto começa a ser discutido na sua escola. No currículo, a cultura negra é considerada folclore e a história do povo negro não é exemplo de luta pela cidadania. Na tentativa de amenizar a situação, alguns professores apenas comentam a questão no Dia da Abolição da Escravatura e no Dia da Consciência Negra, não é mesmo?
De 19 a 24 pontos
3- Fase do reconhecimento
Muito bem! Sua escola está no caminho correto, pois reconhece a necessidade urgente de transformar o ambiente em um espaço de luta contra o racismo e a discriminação. Os alunos aprenderam conceitos sobre os diferentes grupos presentes na sociedade e a realidade de cada um é reconhecida e trabalhada. Continue a enfrentar esse belo desafio.
26 pontos ou mais
4- Fase do avanço
Parabéns! Sua escola progrediu bastante para construir-se verdadeiramente democrática. Visualiza com dignidade os diversos grupos étnicos e usa suas contribuições como ferramentas pedagógicas no trato da diversidade. Certamente, os alunos negros de sua escola têm a autoestima elevada e orgulho de sua origem. Todos os alunos reconhecem a necessidade de respeitar as diferenças e sabem que elas não significam superioridade nem inferioridade.

EDUCAÇÃO NÃO TEM COR

Educação não tem cor

Com discussões e projetos bem elaborados, é possível combater o preconceito racial que existe, sim, na escola. Está nas suas mãos, professor, o sucesso dessas crianças, negras e brancas, como alunas e cidadãs

A aluna Roseane queria ter os cabelos
trançados como os da colega Juliana:
ampliação dos padrões de beleza.
Foto: Ricardo B. Labastier/ Sorvo
Roseane Souza de Queirós, 8 anos, tem os cabelos lisos e claros, mas queria que eles fossem trançados e escuros como os da colega de sala de aula Juliana Francisca de Souza Claudino, uma garota negra também de 8 anos. Um dia, apareceu com o mesmo penteado afro. A atitude de Roseane surpreende. É muito, muito mais comum a criança negra desejar se parecer com a maioria dos heróis dos contos de fadas europeus, com as modelos estampadas em revistas e jornais e com os colegas que recebem maior atenção em sala, todos brancos e loiros. As duas meninas participam sistematicamente de discussões e projetos anti-racistas na Escola Classe 16, no Gama (DF). O desejo de Roseane é um exemplo concreto de que é possível combater na escola preconceitos e estereótipos enraizados.
E prova, de acordo com especialistas, que uma das saídas para o fim das desigualdades educacionais do Brasil está em enfrentar as desigualdades raciais que estão presentes, sim, no ambiente escolar. Quer ver como? A começar pelo currículo. A história e a cultura negras têm pouco ou nenhum destaque, diferentemente da cultura européia. Em um país com 44% de população afro-descendente, quantas pessoas conhecem a rainha Nzinga, líder da libertação do reino africano Ndongo em 1660, ou Dandara, guerreira do Quilombo dos Palmares, ao lado de Zumbi?

Outro dado: a participação das crianças negras na última série do Ensino Médio representa a metade da registrada na 4ª série. Já os brancos somam 44% dos alunos da 4ª série, mas totalizam 76% na 3ª série do Ensino Médio. Mais: a escolaridade média de um negro com 25 anos gira em torno de 6,1 anos. Um branco da mesma idade tem cerca de 8,4 anos de estudo. Dessa maneira, é possível concluir que crianças negras, como Juliana, enfrentam muitos obstáculos para permanecer na escola. E, sem dúvida, está nas mãos dos professores o futuro delas como alunas e cidadãs, defensoras de seus direitos.

Portanto, eis uma demanda urgente para você: ampliar a discussão e os projetos pedagógicos que privilegiem a igualdade racial. Desde maio, com a aprovação da Lei nº 10.639, é obrigatório o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira em todas as escolas de Ensino Fundamental e Médio. Para ajudá-lo a se adequar, mostramos os principais erros e acertos sobre as questões raciais e projetos pedagógicos que valem como inspiração para trabalhar o assunto em novembro, mês de comemoração da consciência negra, e durante o ano todo.

Passado e presente de discriminação


Uma boa medida para entender o impacto do preconceito e da discriminação na vida escolar é analisar a biografia de professores negros. Quem é a professora de Juliana e Roseane, que conseguiu ampliar padrões de beleza na sala de aula?

Marizeth Ribeiro da Costa de Miranda, 39 anos, escolheu a profissão movida por suas experiências pessoais de racismo na escola e fora dela. Dois momentos são extremamente marcantes na trajetória de estudante de Marizeth: um passeio de coleira pelos corredores da escola (um colega quis reproduzir uma imagem de escravos mostrada no livro de História) e o tapa que levou de uma professora, quando conversava com uma colega branca na sala de aula. Somente Marizeth foi repreendida. "Precisei de muita força para não desistir dos estudos. Mas segui minha vida escolar calada", afirma.

O silêncio é uma constante nas relações raciais. De forma consciente, como fez Marizeth, ou inconsciente, como agem os que não sabem lidar com o assunto. Desse modo, tornou-se natural tratar a história do negro apenas na perspectiva da escravidão e aceitar padrões estéticos e culturais de uma suposta superioridade branca. Sobre isso, disse o líder negro americano Martin Luther King (1929-1968): "Temos de nos arrepender nessa geração não tanto pelas más ações das pessoas más, mas pelo silêncio assustador das pessoas boas".
O relato de vida de professores negros foi tema de um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais. As histórias que fazem parte da pesquisa se confundem em muitos pontos. Apelidos, xingamentos e discriminações são experiências vividas por todos os entrevistados. "Todos deixaram por algum período a escola, seja por problemas financeiros, seja por falta de motivação. As singularidades estão expressas na forma como cada um reagiu ao preconceito e à discriminação racial e nos processos pelos quais, gradativamente, chegaram a perceber a condição do negro no Brasil", conta Patrícia Santana, professora responsável pela pesquisa.
A cultura negra em sala de aula
ERROS

- Abordar a história dos negros a partir da escravidão.

- Apresentar o continente africano cheio de estereótipos, como o exotismo dos animais selvagens, a miséria e as doenças, como a aids.

- Pensar que o trabalho sobre a questão racial deve ser feito somente por professores negros para alunos negros.

- Acreditar no mito da democracia racial.
ACERTOS

- Aprofundar-se nas causas e consequências da dispersão dos africanos pelo mundo e abordar a história da África antes da escravidão.

- Enfocar as contribuições dos africanos para o desenvolvimento da humanidade e as figuras ilustres que se destacaram nas lutas em favor do povo negro.

- A questão racial é assunto de todos e deve ser conduzida para a reeducação das relações entre descendentes de africanos, de europeus e de outros povos.

- Reconhecer a existência do racismo no Brasil e a necessidade de valorização e respeito aos negros e à cultura africana.
 Na infância, parece que somos iguais

A história de Creuza Maria de Souza Yamamoto, professora da rede municipal de São Paulo, comprova os resultados da dissertação. Ela só se deu conta do racismo na vida adulta. "Na infância, parece que somos todos iguais e eu tentava me enxergar como meus colegas brancos. Mas minha cor era sempre motivo de piadas", lembra. Atenção e carinho dos professores não fazem parte das lembranças de Creuza. Ela ouviu mais de uma vez frases do tipo: "Ah... esses alunos são burros. Não dá para esperar muito deles". Adulta, optou pelo magistério e, na sala dos professores, o preconceito permanecia o mesmo. "No auge de uma discussão com uma colega, ouvi que meu lugar era na cozinha e não em sala de aula", conta. Creuza era a única professora negra da escola. Hoje, em outra escola, a primeira atividade que faz ao assumir uma turma nova é medir a intensidade do preconceito em seus alunos. Bonecas negras e brancas são colocadas no centro da sala de aula para chamar a atenção das crianças. "Infelizmente, quase sempre as bonecas negras são ignoradas, até mesmo pelos alunos negros."

Relação melhora com discussões

A escolarização significou para Marizeth, Creuza e os personagens ouvidos por Patrícia Santana uma possibilidade de ascensão social. E se tornar professor, além de ser um caminho para a melhoria de vida, foi uma escolha política. "Eu não quero que meus alunos negros sofram o tanto que eu sofri", afirma Marizeth. Assim, sempre que possível, elabora projetos pedagógicos e lança discussões sobre as relações raciais em sala de aula. O trabalho tem dado resultado. A relação entre os alunos negros e brancos está melhor e com a valorização da cultura negra, agora Juliana sabe que pode ficar bonita com suas tranças, diferentemente do que acontecia com a menina Marizeth. "E pensar que eu tinha a cabeça cheia de feridas por causa do creme que meu pai aplicava para alisar meus cabelos", lembra, emocionada. Esses exemplos valem uma reflexão: com quantas situações de preconceito e discriminação você depara todos os dias?

Lei institui valorização da África

Da geração das professoras Marizeth e Creuza à de Juliana e Roseane, os negros alcançaram importantes conquistas na educação. E somente agora há sinais concretos de mudanças para o futuro nas relações inter-raciais. Primeiro foram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que orientam a promoção da igualdade em um dos temas transversais, Pluralidade Cultural. Mas um passo muito maior e mais significativo para o ensino foi dado com a Lei no 10.639. "A legislação rompe com a ordem dos currículos ao propor um novo conhecimento científico contrário à superioridade da produção cultural europeia", afirma Eliane Cavalleiro, pedagoga e coordenadora-geral de Diversidade e Inclusão Educacional do Ministério da Educacão (MEC). Ou seja, o mundo não se resume às conquistas e derrotas do continente europeu.

O documento determina que a história da África seja tratada em perspectiva positiva, não privilegiando somente as denúncias da miséria que atinge o continente. A importância dos anciãos na preservação da memória e a religiosidade, por exemplo, passam a fazer parte dos conteúdos, assim como o conhecimento da contribuição dos egípcios para o desenvolvimento da humanidade. As marcas da cultura de raiz africana devem ser ressaltadas particularmente em Artes, Literatura e História do Brasil. E mais. Os professores precisam valorizar a identidade negra e ser capacitados para destruir o mito da democracia racial no Brasil, criado durante o regime militar (1964-1985). "Quem estudou nas décadas de 1970 e 1980 aprendeu nos livros que o apartheid era um fenômeno de segregação racial restrito à África do Sul e que no Brasil não existia racismo. Não podemos mais acreditar nisso", afirma Cidinha da Silva, historiadora e presidente do Instituto da Mulher Negra (Geledés), de São Paulo.

Pesquisas e música afro 

A lei só sairá do papel se você tiver acesso a material e formação sobre a temática racial na educação. Portanto, agora é hora de buscar bibliografia sobre o assunto, eleger o tema para discussão em grupos de estudos e fomentar a criação de cursos em sua escola e cidade sobre educação anti-racista.

A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo distribuiu 58 mil livros de literatura e de formação para a maioria das escolas da cidade. Foi lançado um kit com 40 títulos que valorizam a cultura e a identidade negra, como Menina do Laço de Fita, de Ana Maria Machado, e Felicidade Não Tem Cor, de Júlio Emílio Braz. O pacote inclui capacitação a 3 mil coordenadores das salas de leituras de escolas paulistanas. "Nossa opção de promover uma prática de igualdade racial parte de uma bibliografia. Esse é apenas um caminho", afirma Marilândia Frazão, assessora de assuntos de política pública e ações afirmativas da secretaria de Educacão de São Paulo.

Algumas cidades têm trabalhos na mesma linha e o resultado aparece nos projetos que começam a pipocar. O professor de História Eduardo Benedito Leite de Almeida, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. João Alves dos Santos, em Campinas (SP), explorou a pesquisa científica com turmas de 7ª série em um trabalho interdisciplinar. Entrevistas, questionários, leitura de livros, revistas e jornais, seminários, confecção de cartazes, desenhos, charges e histórias em quadrinhos ocuparam os alunos por todo o ano letivo. Os temas eram variados, mas todos ligados às relações inter-raciais. Um grupo de alunos pesquisou com moradores da comunidade ao redor da escola se existia racismo no Brasil, outro registrou tudo sobre as festas religiosas africanas e um terceiro conheceu manifestações folclóricas, como a congada.

Leitura e interpretação de indicadores sociais sobre a população negra foram feitas nas aulas de Matemática. Um dos objetivos do projeto era a produção de material de pesquisa. Assim, tudo era registrado em vídeo, fotografias ou artigos publicados no jornal da escola, como a oficina de maracatu. Nessa etapa, o professor contou com a participação de um grupo do movimento negro, que ensinou aos alunos a importância das batidas e dos significados desse ritmo africano. Uma das orientações da Lei nº 10.639 é contar com os membros do movimento negro para elaborar projetos pedagógicos. "O trabalho ainda não acabou, mas já é possível perceber mudanças significativas no tratamento entre os alunos e no interesse pelas coisas da África", conta Eduardo.

O projeto foi um dos vencedores do prêmio Educar para a Igualdade Racial, promovido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), de São Paulo. Uma ótima fonte de experiências sobre combate ao racismo nas escolas. "O próximo passo é estabelecer indicadores de uma boa prática em classe. Ainda há disparidade entre o discurso de reconhecimento do racismo e as atividades pedagógicas", diz Isabel Aparecida dos Santos, assessora pedagógica do Ceert.

A identidade da criança negra

O trabalho de educação anti-racista deve começar cedo. Na Educação Infantil, o primeiro desafio é o entendimento da identidade. A criança negra precisa se ver como negra, aprender a respeitar a imagem que tem de si e ter modelos que confirmem essa expectativa. Por isso, deve ser cuidadosa a seleção de livros didáticos e de literatura que tenham famílias negras bem-sucedidas, por exemplo, e heróis e heroínas negras. Se a linguagem do corpo é especialmente destacada nas séries iniciais, por que não apresentar danças africanas, jogos como capoeira, e músicas, como samba e maracatu?

Em Artes, a professora Simone Marambaia Lins de Carvalho, da Escola Fundação Bradesco, no Rio de Janeiro, trabalhou máscaras africanas com turmas de 1ª série. Um dos eixos do projeto Ser Negro, sem Preconceito era desmitificar estereótipos da África. Os alunos pesquisaram curiosidades do continente africano até chegar à arte, como a cultura de Benim, na Nigéria, produtora de máscaras religiosas. Papelão, tinta e cola renderam modelos coloridos e divertidos para afastar os maus espíritos. Para a compreensão da realidade atual do negro no Brasil, a turma conheceu como era o cotidiano das crianças na época da escravidão, analisando imagens. As obras de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que foram comparadas às fotografias publicadas em jornais atuais, dão um panorama crítico da situação do passado e do presente. "Ainda há muito sofrimento e violência contra a criança negra, mas o contraponto do projeto estava na alegria e na majestade da cultura africana", explica a professora. Tudo como deve ser. Sem constrangimentos nem mitos equivocados.
Um histórico das lutas e conquistas recentes

A ciência dos séculos 18 e 19 considerava que os brancos possuíam maior capacidade intelectual. Depois vinham os índios e, por último, os negros. Alguns estudos afirmavam que os negros se situavam abaixo dos macacos. "Qualquer que seja o grau dos talentos dos negros, ele não é a medida dos seus direitos", Thomas Jefferson (1743-1826), político americano.

1948 - Uma das mais significativas experiências de mobilização negra foi o jornal Quilombo, editado no Rio de Janeiro. A edição nº 0, ano 1, trazia a seguinte afirmação: "Nos dias de hoje a pressão contra a educação do negro afroxou (sic) consideravelmente, mas convenhamos que ainda se acha muito longe do ideal".

1949 - 1º Congresso do Negro Brasileiro. Temas abordados: sobrevivências religiosas e folclóricas; formas de luta (capoeira de Angola, batuque, pernada); línguas (nagô, gegê, língua de Angola e do Congo, as línguas faladas nos anos de escravidão).

Década de 1950 - Iniciam-se os primeiros estudos sobre preconceitos e estereótipos raciais em livros didáticos no Brasil.

Décadas de 1960 e 1970 - Os militares oficializaram a ideologia da democracia racial e a militância que ousou desafiar esse mito foi acusada de imitadora dos ativistas americanos, que lutavam pelos direitos civis. O mito da democracia racial persiste até hoje.

Década de 1980 - Retomada dos estudos sobre preconceitos e estereótipos raciais em livros didáticos. Os resultados das pesquisas apresentam a depreciação de personagens negros, associada a uma valorização dos brancos.

1984 - Em São Paulo, a Comissão de Educação do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e o Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-Brasileiros promoveu discussões com professores de várias áreas sobre a necessidade de rever o currículo e introduzir conteúdos não discriminatórios.

1985 - A comemoração de 13 de maio foi questionada pela Comissão por meio de cartazes enviados às escolas do estado de São Paulo. O material também exaltava 20 de novembro como data a comemorar a consciência negra.

1986 - A Bahia inseriu a disciplina Introdução aos Estudos Africanos nos cursos de Ensino Fundamental e Médio de algumas escolas estaduais atendendo a antiga reivindicação do movimento negro.

1996 - Entre os critérios de avaliação dos livros didáticos comprados e distribuídos pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foram incluídos aqueles específicos sobre questões raciais.

1998 - Inclusão da Pluralidade Cultural entre os temas transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

2003 - A publicação da Lei no10.639 tornou obrigatório o ensino da História da África e dos Afro-brasileiros no Ensino Fundamental e Médio.

Fonte: estudos e pesquisas de Benilda Regina Paiva de Brito e Fúlvia Rosemberg
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Contatos
Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), R. Duarte de Azevedo, 737, 02036-022, São Paulo, SP, tel. (11) 6978-8333, internet: www.ceert.org.br

Escola Classe 16, Q 06 área especial, setor Sul, 72415-060, Gama, DF, tel. (61)556-2553

Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. João Alves dos Santos, Estr. dos Amarais, 635, 13067-170, Campinas, SP, tel. (19) 3281-2694

Fundação Bradesco, R. Haddock Lobo, 253, 20260-131, Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 2503-1664

Bibliografia
Almanaque Pedagógico Afrobrasileiro
, Rosa Margarida de Carvalho Rocha, 167 págs., Ed. Mazza, tel. (31) 3481-0591, 29 reais