terça-feira, 6 de novembro de 2012

NEI LOPES


 Texto de Nei Lopes:
“A gente sabe que racismo não se resolve por decreto. Mas se não fosse, por exemplo, a Lei Afonso Arinos, não chegaríamos, mais de meio século depois,  ao Estatuto da Igualdade Racial, hoje em discussão.
Os oponentes argumentam com a idéia de que “o Brasil não precisa disso”, e que as cotas para negros nas universidades, nos empregos públicos e na publicidade; o ensino da História africana e afro-brasileira, além de outras medidas compensatórias viriam criar uma divisão racial que hoje não existe pois “raça” é uma construção sociológica.
Mas disso nós negros é que entendemos bem. E sabemos que, mesmo que o conceito de “raça”  seja difuso, o racismo anti-negro  existe e opera. Tanto aqui como nos Estados Unidos ou na África do Sul.
O caso é que, passados 120 anos da Abolição, foram poucos os ganhos da população negra como um todo.  Em nome de uma “mestiçagem” de conseqüências discutíveis, vai-se tirando do povo negro o domínio sobre suas próprias criações e o alijando dos resultados da exploração econômica da cultura semeada aqui por nossos ancestrais africanos.
Há algum tempo eu, pessoalmente, venho colecionando matérias da mídia impressa sobre grupos de profissionais bem sucedidos. Reportagens, por exemplo, sobre os melhores chefes de cozinha, arquitetos, decoradores, fotógrafos, jornalistas etc. Inclusive na seção “Por  dentro de O Globo”,  no primeiro caderno. Cadê os negros nos espaços de excelência profissional?
Poder-se-ía responder, como se tem feito, que a causa é apenas econômica;  que se reestruturando a Educação de base, resolvemos isso. Mas… quando isso estará resolvido? Daqui a quanto tempo? Daqui a quantas gerações? Enquanto isso não ocorre, as doenças, o crime, a miséria e a baixa auto-estima vão matando ou embrutecendo nossos filhos e netos.
Por isso é que sou a favor do Estatuto, mesmo conhecendo apenas seus propósitos. A questão “racial” ou “etno-racial” (como queiram) no Brasil é assunto de segurança nacional e como tal deve ser encarada.  Ou será que ninguém vê que a violência das grandes cidades espelha essa realidade, fruto de uma Abolição incompleta e altamente desvantajosa para o povo negro?
Nei Lopes
15.01.2008

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