Relato atribuído à filósofa Lia Diskin, ocorrido durante o Festival Mundial da Paz em Florianópolis
Um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e,
quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o
levaria até o aeroporto de volta pra casa. Como tinha muito tempo ainda
até o embarque, ele então propôs uma brincadeira para as crianças, que
achou ser inofensiva. Comprou uma porção de doces e guloseimas na
cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e colocou
debaixo de uma árvore.
Aí, ele chamou as crianças e combinou que quando dissesse "já!",
elas deveriam sair correndo até o cesto e a que chegasse primeiro
ganharia todos os doces que estavam lá dentro. As crianças se
posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram
pelo sinal combinado.
Quando ele disse "Já!", instantaneamente, todas as crianças se
deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto.
Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e os comerem
felizes.
O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou por que elas tinham
ido todas juntas, se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto
e, assim, ganhar muito mais doces. Elas simplesmente responderam:
"Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"
Ele ficou pasmo. Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo e
ainda não havia compreendido, de verdade, a essência daquele povo... Ou
jamais teria proposto uma competição, certo?
Ubuntu significa: Sou quem sou, porque nós somos.
“Deus não gosta de ser insultado quando veste Seus ternos escuros” Paramahansa Yogananda
Muitas vezes trabalhamos em uma ideia ou uma convicção tão
obsessivamente, para "ajudar" aqueles que consideramos "carentes" ou
para mudar os "inferiores" e não percebemos que eles têm o mesmo valor
que nós. E até nos surpreendem, muitas vezes, com seu sentido ético e
sua maneira de se relacionarem. Falta ainda um pouco mais de tempo para
compreendermos que não existe tal coisa como uma hierarquia cultural, ou
expressões culturais boas e más, certas ou erradas.
Na ação de cada gesto ou na consideração que fazemos do “outro,” só
conseguimos olhar para o próprio umbigo e frequentemente nos vemos como
modelo e referencial. Olhamos as outras manifestações culturais, outros
valores, outras práticas sociais pelo nosso prisma, com os valores da
nossa cultura. A isso a Sociologia e a Psicologia chamam de
"etnocentrismo".
O
ubuntu tem sido uma expressão vivida de uma filosofia coletiva ética
entre os povos sul-africanos há séculos. A pessoa só é humana por
pertencer a um coletivo humano; a humanidade de uma pessoa é definida
por meio de sua humanidade para com os outros; uma pessoa existe por
meio da existência dos outros em relação inextricável consigo mesma, mas
o valor de sua humanidade está diretamente relacionado à forma como ela
apoia ativamente a humanidade e a dignidade dos outros; a humanidade de
uma pessoa é definida por seu compromisso ético com sua irmã e seu
irmão.
O adágio de que “é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança” está alinhado com o espírito e a intenção do ubuntu. A força da comunidade vem do apoio comunitário e de que a dignidade e a identidade são alcançadas por meio do mutualismo, da empatia, da generosidade e do compromisso comunitário. Assim como o apartheid ameaçava corroer esse modo de ser africano tradicional – embora, em alguns casos, ele ironicamente o fortaleceu ao galvanizar o apoio coletivo e ao criar solidariedade entre os oprimidos –, da mesma forma a industrialização, a urbanização e a globalização crescentes ameaçam corromper essa prática secular.
O ubuntu também é a expressão viva de uma alternativa ecopolítica e antítese do materialismo capitalista, pois se posiciona contra essa interpretação ideológica da realidade através de uma filosofia nativa espiritual que está em maior consonância com a Terra, suas criaturas e suas formas vivas, e isso diz respeito a toda a humanidade em toda parte.
O adágio de que “é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança” está alinhado com o espírito e a intenção do ubuntu. A força da comunidade vem do apoio comunitário e de que a dignidade e a identidade são alcançadas por meio do mutualismo, da empatia, da generosidade e do compromisso comunitário. Assim como o apartheid ameaçava corroer esse modo de ser africano tradicional – embora, em alguns casos, ele ironicamente o fortaleceu ao galvanizar o apoio coletivo e ao criar solidariedade entre os oprimidos –, da mesma forma a industrialização, a urbanização e a globalização crescentes ameaçam corromper essa prática secular.
O ubuntu também é a expressão viva de uma alternativa ecopolítica e antítese do materialismo capitalista, pois se posiciona contra essa interpretação ideológica da realidade através de uma filosofia nativa espiritual que está em maior consonância com a Terra, suas criaturas e suas formas vivas, e isso diz respeito a toda a humanidade em toda parte.
"Dalene Swanson, educadora sul-africana".
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