sábado, 15 de agosto de 2015

OS RACISTAS


O racismo é uma das formas mais odiosas de discriminação racial que pode haver na face da Terra. As pessoas que no íntimo se consideram racistas, embora de público não admitam essa possibilidade, têm por princípio justificar uma espécie de escravatura moderna do ser humano.
Essa arbitrariedade não atinge apenas as pessoas de cor, pois se estende também aos povos indígenas, aos judeus e outras minorias. Por serem raças sem maior predomínio nos vários campos de atividade humana, os homens que subjugam grande parcela das economias e riquezas do Planeta, entendem que os demais povos devam se submeter a sua opressão.
Embora se diga que no Brasil não há racismo, ao menos abertamente, cientistas e estudiosos afirmam que se depender de uma mudança de mentalidade, em favor dos negros, vamos ter que aguardar por mais 500 anos.
Na verdade, se focalizarmos a história das raças, seu preconceito e intolerância, verificaremos que ela teve início quando o filósofo inglês Herbert Spencer, mentor da frase “sobrevivência dos mais aptos,” entendeu que a vida em sociedade é uma luta ‘natural.’
Com isso ele quis dizer que é normal que vençam os mais fortes, tenham sucesso, riqueza e poder social; aos fracos, os despojos do fracasso. E da sobrevivência dos mais aptos é que surgiu a famosa obra “Sobre a Origem das Espécies por meio da Seleção Natural,” do cientista inglês Charles Darwin.
 Os pensadores da sociedade capitalista da época vincularam as teorias de Spencer e Darwin a ideologias eugenistas ( estudo, reprodução e melhoramento da raça humana) e racistas. Hitler, com seu ideário de raça ariana foi um exemplo falido.
Desde então, as elites dominantes, amparadas por vasta literatura preconceituosa, (leia-se “O Espetáculo das Raças”, “O Caráter Nacional Brasileiro” e outros) segregam os menos afortunados, deixando-os às margens do desemprego, do subemprego, da pobreza, do analfabetismo, da miséria, da doença e de uma vida marginal.
Embora possamos formar idéias próprias, elas não se encaixariam e nem traduziriam nos mesmos moldes os nossos sentimentos, a respeito da realização de uma democracia racial no Brasil, atualmente, conforme assevera a doutora em Psicologia pela USP, Maria Augusta Bolsanello: “Pode-se dizer que o racismo é uma forma perversa de violência contra a dignidade humana.”
“Bastam algumas propagandas, algumas inverdades de caráter pseudocientífico, mas ditas com seriedade e com o aval desta ou daquela personalidade, para que a visão desumana de mundo seja aceita. Nasce então e arraiga-se o preconceito e a intolerância, que logo se convertem em práticas inconscientes e cotidianas de uma injustiça degradante.”
Nossa história semanal mostra que apesar de haver pessoas que escondem seus sentimentos raciais, nem todas se valem dessa faculdade abjeta: Era uma vez um velho homem que vendia balões numa quermesse. Evidentemente, o homem era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho soltar-se e elevar-se nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens compradores de balões.
Havia ali perto um menino negro que estava observando o vendedor e, é claro, apreciando os balões. Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul, depois um amarelo e, finalmente, um branco. Todos foram subindo até sumirem de vista. O menino, de olhar atento, seguia cada um. Ficava imaginando mil coisas... Uma coisa o aborrecia: o homem não soltava o balão preto. Então, aproximou-se do vendedor e perguntou-lhe:
– Moço, se o senhor soltasse o balão preto ele subiria tanto quanto os outros? O vendedor de balões sorriu compreensivamente para o menino, arrebentou a linha que prendia o balão preto e, enquanto ele se elevava nos ares, disse-lhe: – Não é a cor, filho, é o que está dentro dele que o faz subir. Moral da história: quem julga pelas aparências, também será julgado por elas.

Texto de RICHARD ZAJACZKOWSKI






     
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR 2015M – INTRODUÇÃO
Trabalho de análise  e síntese da professora
Leda Lorensi

A Equipe Multidisciplinar - EM tem como
 finalidade o desenvolvimento de práticas pedagógicas
 para a mobilização, articulação e multiplicação de
 conhecimentos por meio de ações que visibilizam
positivamente as especificidades étnico-raciais,
 sociais, territoriais e culturais dos povos indígenas,
 população negra, comunidades remanescentes de
 quilombos e comunidades tradicionais negras do
Brasil e do estado do Paraná.
Pretende-se a construção de um currículo
 diferenciado
 pautado
 na
 necessidade
 de
 reconhecimento e valorização dos conhecimentos
 e processos próprios de ensino e aprendizagem
 da diversidade étnico-racial dos povos indígenas e
 populações negras na formação da sociedade brasileira.
Da mesma forma, busca-se superar as
 desigualdades étnico-raciais e os processos de exclusão
 das populações negras e indígenas no acesso aos
 direitos sociais.
Nesse sentido, a proposta pedagógica para
 as Equipes Multidisciplinares de 2015, apresenta
 discussões que não devem ser estanques e sim uma
 oportunidade de análise das questões étnico-raciais
 que impactam negativamente no acesso, permanência
 e sucesso escolar. Sendo assim, destacamos que
 estas ações deverão ser realizadas de forma contínua,
 vinculando currículo, escola, comunidade e sociedade.
Tais reflexões, fundamentadas na Lei No
 10.639/03 e na Lei No 11.645/08, contribuem
 para conhecer, analisar e adotar possibilidades
 de encaminhamentos teórico-metodológicos que
 positivem a presença de indígenas e negras/os no
 ambiente escolar, desnaturalizando estereótipos
 construídos historicamente no imaginário social.

Livro: Índio Brasileiro
O Índio
 Brasileiro:
 o que você
 precisa saber
 sobre os povos
 indígenas no
 Brasil de hoje
Gersem dos Santos Luciano
 – Baniwa

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
 do Ministério da Educação (SECAD/MEC) tem enorme satisfação em
 publicar, em parceria como o Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED), ligado ao Departamento de
 Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de
 Janeiro, o presente livro, parte da série Vias dos Saberes.
Para a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do
 Ministério da Educação, a educação para
 todos não pode separar-se de questões
 como qualificação profissional e mundo do
trabalho; direitos humanos; etnia; gênero
 e diversidade de orientação sexual; justiça
 e democracia; tolerância e paz mundial;
 bem como desenvolvimento ecologicamente sustentável. Além disso, a compreensão e o respeito pelo diferente e pela
 diversidade são dimensões fundamentais
 do processo educativo.
Uma de nossas mais importantes missões é propor uma agenda pública para o Sistema Nacional de Ensino, que promova a diversidade
 sociocultural, extrapolando o seu mero reconhecimento, patamar já
 afirmado em diversos estudos sobre nossa sociedade, os quais derivam,
 em sua grande maioria, de celebrações reificantes da produção cultural
 de diferentes grupos sociais, que folclorizam manifestações produzidas
 e reproduzidas no dia-a-dia das dinâmicas sociais e reduzem os valores
 simbólicos que dão coesão e sentido aos projetos e às práticas sociais de
 inúmeras comunidades.
Queremos interferir nessa realidade transformando-a, propondo
 questões para reflexão que tangenciem a educação, tais como: de que
 modo reverteremos a histórica subordinação da diversidade cultural ao
 projeto de homogeneização que imperou – ou impera – nas políticas pú-
blicas, o qual teve na escola o espaço para consolidação e disseminação
 de explicações encobridoras da complexidade de que se constitui nossa
 sociedade? Como convencer os atores sociais de que a invisibilidade
 dessa diversidade é geradora de desigualdades sociais? Como promover
 cidadanias afirmadoras de suas identidades, compatíveis com a atual
 construção da cidadania brasileira, em um mundo tensionado entre pluralidade e universalidade, entre o local e o global? Como transformar a
 pluralidade social presente no microespaço da sala de aula em estímulo
para rearranjos pedagógicos, curriculares e organizacionais que compreendam a tensão gerada na sua positividade, a fim de ampliar e tornar
 mais complexo o diálogo entre realidades, perspectivas, concepções e
 projetos originados da produção da diversidade sociocultural? Como
 superar a invisibilidade institucionalizada das diferenças culturais que
 valida avaliações sobre desempenho escolar de crianças, jovens e adultos sem considerar as suas realidades e pertencimentos sociais?
O impulso pela democratização e afirmação dos direitos humanos na
 sociedade brasileira atinge fortemente muitas das nossas instituições estatais, atreladas a projetos de estado-nação comprometidos com a anulação das diferenças culturais de grupos subordinados. Neste contexto,
 as diferenças culturais dos povos indígenas, dos afro-descendentes e de outros povos portadores de identidades específicas foram sistematicamente negadas, compreendidas pelo crivo da inferioridade e, desse
 modo, fadadas à assimilação pela matriz dominante.
A proposta é articular os atores sociais e os gestores para que os desafios que foram postos estabeleçam novos campos conceituais e práticas de planejamento e gestão, renovados pela valorização da diversidade
 sociocultural, que transformem radicalmente posições preconceituosas
e discriminatórias.
Esperamos contribuir não só para difundir as bases conceituais para
 um renovado conhecimento da sociodiversidade dos povos indígenas
 no Brasil contemporâneo, como também para fornecer subsídios para o
 fortalecimento dos estudantes indígenas no espaço acadêmico, e tornar
 mais complexo o conhecimento dos formadores sobre essa realidade
 e sobre as relações que se estabelecem no convívio com as diferenças
 culturais. Finalmente, esperamos que a sociedade aprofunde sua busca
 pela democracia com superação das desigualdades sociais.
Ricardo Henriques
Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC)

O sujeito negro e a educação tecnológica: potencialidades a partir de
 aproximações conceituais de Clovis Moura e Andrew Feenberg
Célia Regina Tokarski
Domingos Leite Lima Filho
Ivo Pereira de Queiroz
Mariana Prohmann

Este texto reflete sobre tecnologia e educação tecnológica, atividades de
 indiscutível importância e atualidade. O tecido conceitual aqui desenvolvido deriva da
 seguinte indagação: em que sentido o conceito de barragens de peneiramento, de Clóvis Moura, aproxima-se do conceito de código técnico, desenvolvido por Feenberg, para
 potencializar a compreensão e a explicação da exteriorização do negro na educação
 tecnológica? Como se depreende, o problema afirma que a ausência do sujeito negro do
 contexto da educação tecnológica não é natural, ao contrário, é consequência de situações
 socialmente construídas. A partir da produção social da alienação do sujeito negro, a
 reflexão proposta por este texto argumenta que os conceitos de barragens de peneiramento,
 de Clóvis Moura e de código técnico, desenvolvido por Feenberg, contribuem para a
elaboração dum discurso que permita compreender e explicar a alienação tecnológica de
 pessoas negras no Brasil. Ao expor tais conceitos assim como a problemática da
 exteriorização do negro na educação tecnológica, pressupõe-se a necessidade de promover o
 debate acerca do tema e ações de visível urgência que se contraponham a exteriorização.
Alienar é pertencer a outrem, é estar alheio de si. No caso da educação
 tecnológica, que trata da produção, sistematização e transmissão dos saberes técnicos e tecnológicos, caracterizando em linhas gerais, a educação profissional, a perpassar, dentre
 outros, pelo ensino das engenharias e qualificando para o exercício profissional, o fato é
 notório: os sujeitos negros são minoria, sejam como discentes, docentes e/ou dirigentes.
Enfim, quando o negro brasileiro consegue se qualificar e competir no mercado de
 trabalho em posição de igualdade com um trabalhador branco em uma profissão
 considerada superior, ele encontrará as barragens de peneiramento cristalizadas no
 imaginário social na forma de estereótipos referentes à sua cor, à sua capacidade intelectual
 fazendo com que atualmente não se empregue a referência à sua cor, mas sim à sua
 capacidade de liderança, à sua profissionalização. Porém, percebe-se os preconceitos ainda
 latentes, que forjados na tessitura social do período escravagista, foram impostos ao negro
 brasileiro no período pós Abolição até os dias atuais.
O efeito concreto das barragens de peneiramento consiste em mecanismos que
 impedem ao sujeito negro participar e tomar parte nos processos sociais, incluindo-se a
 educação tecnológica. Por meio das barragens de peneiramento os setores dominantes
 mantêm privilégios, argumentando que são fatos naturais.
A partir das reflexões apresentadas até aqui, se reafirmam a consistência analítica
 da categoria barragens de peneiramento proposta por Clóvis Moura, a qual contribui para a
 compreensão, explicação e enfrentamento da alienação dos sujeitos negros nos processos
 societários, particularmente a educação tecnológica.
Assim sendo, as barragens de peneiramento e os códigos técnicos na perspectiva
 da argumentação aqui desenvolvida exercem o papel de “correias de transmissão” dos
 mecanismos de alienação e exteriorização dos sujeitos negros, fazendo com que as mazelas
 vividas por uma geração de gente negra sejam comunicadas à próxima como arquivo ou
 sentença de fracasso. Inversamente, contribuem para transmitir a perpetuação das benesses
 aos setores privilegiados da sociedade brasileira.
Segundo Moura, o negro é considerado “mau cidadão quando” - ciente das
 barragens de impedimentos existentes na sociedade e que impossibilitam a ascensão
 massiva do seu povo – rebela-se e procura, através de grupos organizados ou
 individualmente, denunciar as formas de exclusões e a exigir que as elites dominantes
 revejam os códigos operacionais e ao mesmo tempo, conscientiza a população para que
 ocorra uma tomada de posição (MOURA, 1997). Assim, há que se incentivar justamente
 essa postura reivindicatória, para que o negro na sua relação com o processo de educação
 tecnológica passe de mau cidadão, a um cidadão que em igualdade com o branco, seja no
 acesso a educação tecnológica, aos bens e serviços e em especial a capacidade de se
reconhecer e principalmente ser reconhecido como sujeito constituinte de processos de
 decisões políticas.
Ao lançar mão desta ideia, reconhece-se a necessidade de diversas mudanças em
 uma estrutura social que sistematicamente, exclui a participação ativa dos negros a partir de
 diversos mecanismos de coerção. Reconhece-se também, a urgência de ações afirmativas
 que ajudem a retirar o véu que impede aos olhos humanos enxergar as barragens de
 peneiramento e os códigos técnicos.


EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: UMA EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
 DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PARA O ENSINO DA
 HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E
 INDÍGENA NA REDE ESTADUAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO
 PARANÁ
COQUEIRO, Edna Aparecida1 - SEED
SILVA, Eleuza Teles da2 - SEED
LOPES, Tania Aparecida3 - SEED
SANTOS, Kenneth Dias dos4 - SEED
ROCHA FILHO, Luiz Camões Pedroso da5 - SEED
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: Secretaria de Estado da Educação do Paraná-SEED

O presente trabalho consiste no relato de experiência sobre a implementação das equipes
 multidisciplinares, na rede estadual de educação básica e Núcleos Regionais de Educação-
NRE, no estado do Paraná. A proposta está fundamentada no diálogo, cujo objetivo principal
 é desenvolver ações pedagógicas para a educação das relações da diversidade étnico-racial,
 por meio do ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena, instituído pelas
 Leis 10.639/03 e 11.645/08. Esta ação, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná-SEED,
 desenvolvida pelo Departamento da Diversidade-DEDI, através da Coordenação da Educação
 das Relações da Diversidade Étnico-Racial-CERDE, é uma política pública educacional, que
 visa garantir a ressignificação e valorização da cultura africana, afro-brasileira e indígena na
 diversidade paranaense e brasileira. Os princípios pedagógicos são norteados pelas Diretrizes
 Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
 História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, efetivados pelas disciplinas da base nacional
 comum. As equipes multidisciplinares são constituídas e organizadas no espaço escolar, com
 a finalidade de orientar e auxiliar o desenvolvimento das ações relativas à educação das
 relações étnico-raciais e ao ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena
 durante o período letivo, na perspectiva de contribuir para que a/o aluna/o negra/o,
 quilombola e indígena mire-se de forma positiva, pela valorização da história de seu povo e
da sua participação efetiva na construção de riquezas e da identidade do país. Para o
desenvolvimento do trabalho no espaço escolar, a equipe multidisciplinar, realiza encontros,
 seminários e outras atividades que se caracterizam como formação continuada. A experiência
vivenciada por professores/es e os demais segmentos da comunidade escolar, embora ainda
 em processo de construção, apresenta um modelo que favorece a produção e a democratização
 do conhecimento sobre as raízes históricas do Brasil, bem como, a participação ativa na
 construção de uma sociedade antirracista.
Em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
 Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e
 por meio da articulação das disciplinas da base nacional comum, as equipes multidisciplinares
 são constituídas como instâncias de organização do trabalho escolar, com a finalidade de
 efetivar a educação das relações da diversidade étnico-racial.
Em conformidade com Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares
 Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
 Afro-brasileira e Africana, o trabalho é orientado:
 Sendo assim, o objetivo da equipe multidisciplinar é desenvolver ações que positivem
 a presença de alunas/os negras/os, indígenas, quilombolas, bem como, sua história, sua
 cultura e sua religiosidade. Nesse sentido, compreende-se que a abordagem adotada pelas
 equipes multidisciplinares, deve refletir sobre os processos de exclusão, racismo e preconceito
vivenciados por negras/os, indígenas, quilombolas. Mais que isso, as ações pedagógicas
 propostas no plano de ação das equipes, devem buscar possíveis soluções para dinâmicas e
 conflitos relacionais, que permeiam o cotidiano da escola e que visem uma educação
 efetivamente democrática.
Estratégias de ação das Equipes Multidisciplinares.
Mobilizar o coletivo é a primeira estratégia de ação das equipes multidisciplinares. A
 partir daí, segue a elaboração do plano de ação, constituído por projetos vinculados à
 realidade de cada escola e NRE, conforme os itens a seguir: identificação do estabelecimento
 e integrantes da equipe multidisciplinar; objetivos a serem alcançados; justificativa das ações
 a serem realizadas; cronograma; avaliações das ações e referências.
Neste plano, as ações desenvolvidas, tanto os encontros, quantos os seminários tem
 caráter organizativo e formativo:
i) os encontros acontecem no espaço escolar, com carga horária e cronograma de
 execução sugerido pela SEED (para efeito de certificações), no entanto, este pode ser alterado
 pela própria equipe de acordo com a dinâmica de tempo do estabelecimento escolar e do
 NRE;
ii) os seminários envolvem o trabalho de docentes com conhecimento e/ou experiência
 nas temáticas de ERER e no ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena.
Os eventos foram realizados ao longo do calendário letivo da escola, contemplando datas
 significativas da comunidade local e na Semana da Consciência Negra como culminância das
atividades planejadas e desenvolvidas nos encontros das equipes multidisciplinares. Nas
 escolas quilombolas e indígenas o período de realização e organização do seminário leva em
 conta as especificidades das comunidades.
Entendemos o trabalho das equipes multidisciplinares, como um importante processo
 de reescrita da história, processo em que o protagonista são as/os professoras/es. As ações da
 equipes permite organizar registros de ações, buscando soluções para dinâmicas e conflitos
 relacionais, que permeiam o cotidiano da escola e visem uma educação efetivamente
 democrática, em cada estabelecimento escolar e NRE, quanto à implementação de ações sobre
 a educação das relações da diversidade étnico-racial.
Com os resultados dos planos de ação das equipes multidisciplinares, pode-se dizer
 que a escola é um espaço privilegiado no que diz respeito aos trabalhos com temas trazidos
 pelas Leis 10.6369/03 e 11.645/08, possibilitando a interação entre professoras/es, agentes
 educacionais, alunas/os e pedagogas/os, de forma a permitir o reconhecimento da pluralidade
 étnico-racial da comunidade escolar.
As ações desenvolvidas pelas equipes multidisciplinares voltadas para o cumprimento
 da Lei 10.639/03 se colocam no campo da construção do conhecimento de forma que
 impulsionem mudanças que sejam capazes de promover o reconhecimento e valorização à
 diversidade étnico-racial.
Considerando os objetivos propostos, conclui-se que a implementação das equipes
 multidisciplinares contribuíram e contribuem para a ampliação do diálogo no espaço escolar,
democratizando a informação, promovendo o debate profícuo sobre a realidade brasileira no
 que se refere à educação das relações étnico-raciais e ao ensino de história e cultura afro-
brasileira, africana e indígena.
Entendemos que é importante avançar na implementação para atingir os 100% das
 escolas da rede estadual de educação. Para tanto, a Secretaria de Estado de Educação do
 Paraná está implementando um/o sistema de monitoramento e registros das ações que
 assegurem a elaboração de um plano estratégico para a construção de políticas públicas

 educacionais que garantam uma educação democrática.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Ações das Equipes multidisciplinares nas Escolas

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: UMA EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PARA O ENSINO DA
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E
INDÍGENA NA REDE ESTADUAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO
PARANÁ
COQUEIRO, Edna Aparecida1 - SEED
SILVA, Eleuza Teles da2 - SEED
LOPES, Tania Aparecida3 - SEED
SANTOS, Kenneth Dias dos4 - SEED
ROCHA FILHO, Luiz Camões Pedroso da5 - SEED
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: Secretaria de Estado da Educação do Paraná-SEED
Resumo
O presente trabalho consiste no relato de experiência sobre a implementação das equipes
multidisciplinares, na rede estadual de educação básica e Núcleos Regionais de Educação-
NRE, no estado do Paraná. A proposta está fundamentada no diálogo, cujo objetivo principal
é desenvolver ações pedagógicas para a educação das relações da diversidade étnico-racial,
1 Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina, pós graduada em Sociologia
Urbana pela Universidade Estadual de Maringá. Atualmente é técnica pedagógica na SEED/Departamento da
Diversidade/Coordenação da Educação das Relações da Diversidade Étnico-Racial.
2 Graduada em História pela Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari, Graduada em
Pedagogia e Administração Escolar pela Fundação Faculdade e Filosofia, Ciência e Letras de Mandaguari,
Especialista em Didática e Metodologia do Ensino pela Universidade Norte do Paraná , atualmente é técnica
pedagógica da SEED/Departamento da Diversidade/Coordenação da Educação das Relações da Diversidade
Étnico-Racial.
3 Graduada em História pela Faculdade Integrada Espírita, especialista em Metodologia do Ensino pelo Instituto
Brasileiro de Pós Graduação e Extensão – IBPEX e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná–
UFPR. Atualmente é Coordenadora da Educação das Relações da Diversidade Étnico-Racial/ Departamento da
Diversidade/SEED.
4 Graduado em Geografia pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, especialista em
História e Geografia do Paraná pelo Instituto Tecnológico Educacional, atualmente técnico pedagógico na
SEED/Departamento da Diversidade/Coordenação da Educação das Relações da Diversidade Étnico Racial.
5 Graduado em História pela Universidade Tuiuti do Paraná, atualmente técnico pedagógico na
SEED/Departamento da Diversidade/Coordenação da Educação das Relações da Diversidade Étnico Racial.
Por meio do ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena, instituído pelas
Leis 10.639/03 e 11.645/08. Esta ação, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná-SEED,
desenvolvida pelo Departamento da Diversidade-DEDI, através da Coordenação da Educação
das Relações da Diversidade Étnico-Racial-CERDE, é uma política pública educacional, que
visa garantir a ressignificação e valorização da cultura africana, afro-brasileira e indígena na
diversidade paranaense e brasileira. Os princípios pedagógicos são norteados pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, efetivados pelas disciplinas da base nacional
comum. As equipes multidisciplinares são constituídas e organizadas no espaço escolar, com
a finalidade de orientar e auxiliar o desenvolvimento das ações relativas à educação das
relações étnico-raciais e ao ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena
durante o período letivo, na perspectiva de contribuir para que a/o aluna/o negra/o,
quilombola e indígena mire-se de forma positiva, pela valorização da história de seu povo e
da sua participação efetiva na construção de riquezas e da identidade do país. Para o
desenvolvimento do trabalho no espaço escolar, a equipe multidisciplinar, realiza encontros,
seminários e outras atividades que se caracterizam como formação continuada. A experiência
vivenciada por professores/es e os demais segmentos da comunidade escolar, embora ainda
em processo de construção, apresenta um modelo que favorece a produção e a democratização
do conhecimento sobre as raízes históricas do Brasil, bem como, a participação ativa na
construção de uma sociedade antirracista.
Palavras-chave: Educação. Equipes Multidisciplinares. Educação das Relações Étnico-
Raciais.
Introdução
A educação das relações étnico-raciais no Brasil, consiste em desafio, não só para a
educação, como para todos aqueles que se comprometem com as mudanças sociais. O
reconhecimento, a valorização e fortalecimento da identidade da população negra se
caracteriza por meio das lutas dos movimentos sociais negros e das políticas públicas
implementadas pelas instituições. Na educação, as Leis 10.6369/03 e 11.645/08 que institui a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena, instaura no
ambiente escolar um clima de insegurança, até mesmo de rejeição, visto que alguns
profissionais da educação, não se sentiam preparados para dar conta da tarefa apresentada
pelas referidas leis, tanto pela falta de formação, como pela carência de material didático
sobre a temática. Nesse contexto, as discussões giram em torno da ideia de que apenas
algumas disciplinas, como por exemplo: História, Língua Portuguesa e Arte estariam aptas
para assumirem a responsabilidade. Esse entendimento prevaleceu por algum tempo, mas no
bojo da discussão estava presente a compreensão de que todo o processo educativo deveria
estar envolvido e comprometido com a educação das relações étnico-racial. Desta forma, a
 ações sociais na busca por estratégias, que possibilitassem criar condições para colocar em prática o
proposto pelas Leis, ditas anteriormente.
Nesse sentido, o relato tem por objetivo socializar a experiência da implementação, do
desenvolvimento e dos resultados das equipes multidisciplinares, composta por profissionais
da educação (das diferentes áreas do conhecimento), núcleos regionais de educação,
comunidade escolar e movimentos sociais, como ação de formação continuada elaborada e
executada num plano de ação, cujas, as bases são nas especificidades e nas diferentes
realidades do cotidiano o escolar da rede básica estadual do Paraná, compreendendo o período
entre 2011 e 2012.
Tal experiência é entendida como parte de um processo educacional, por meio de
políticas públicas, em educação das relações da diversidade étnico-racial, que visa fomentar o
diálogo, a produção de conhecimento, bem como atitudes, diante as relações de
multiplicidade cultural presentes na escola e na sociedade.
Entre outras ações da Secretaria de Estado da Educação do Paraná-SEED, esta tem o
compromisso de atender ao determinado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB n°
9394/96, alterada pela Lei 10.639/036 que tornou obrigatório o ensino da história e cultura
afro-brasileira, em todas as modalidades da educação básica.
Equipe Multidisciplinar: contexto histórico e processo de implementação
No contexto dos debates contemporâneos, acerca de políticas públicas de ações
afirmativas, a partir das demandas e de diálogos com o movimento social negro e movimento
sindical, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, desde 2004, com a sanção da
Lei 10.639/03, assume como pauta da política educacional do estado às orientações acerca da
educação das relações étnico-raciais.
No ano de 2007, no Departamento da Diversidade - DEDI constitui-se o primeiro
espaço institucional responsável pela implementação da referida Lei, denominado
Coordenação de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, situada na Coordenação dos
Desafios Educacionais Contemporâneos.
6 A partir da promulgação da Lei 11.645/08 o artigo 26 A da LDB 9394/96, institui a obrigatoriedade do
ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena.
17890
Em 2009, entre as coordenações do Departamento da Diversidade7, institucionalizouse
o Núcleo de Educação das Relações Étnico-Raciais e Afrodescendência – NEREA8, com a
tarefa de orientar a inclusão da temática de história e cultura afro-brasileira e africana, as
ações voltadas ao atendimento educacional das Comunidades Remanescentes de Quilombo do
Paraná e o enfrentamento às práticas de discriminação étnico-racial na escola, assim como a
pesquisa e produção de materiais pedagógicos.
A partir dessas demandas, em 2010, foram realizadas reuniões técnicas com
professoras/es, técnicas/os pedagógicas/os dos Núcleos Regionais da Educação-NRE e
representantes do Fórum Permanente de Educação das Relações da Diversidade Étnico-
Racial-FPEDER, a fim de elaborar propostas para a regulamentação das equipes
multidisciplinares. De acordo com o previsto na Deliberação n° 04/2006 do Conselho
Estadual de Educação-CEE, que institui as Normas Complementares às Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos estabelecimentos escolares da rede estadual
de educação básica, se estabelece na Resolução 3399/2010–GS/SEED e na Instrução
010/2010 – SUED/SEED as normas que regulamentaram o funcionamento e a composição
das equipes multidisciplinares em todos os estabelecimentos de ensino e NRE.
Em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e
por meio da articulação das disciplinas da base nacional comum, as equipes multidisciplinares
são constituídas como instâncias de organização do trabalho escolar, com a finalidade de
efetivar a educação das relações da diversidade étnico-racial.
Em conformidade com Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-brasileira e Africana, o trabalho é orientado:
7 As outras coordenações do Departamento da Diversidade até 2010 eram: Núcleo de Gênero e
Diversidade Sexual – NGDS; Educação Escolar Indígena; Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos; e
Educação do Campo. A partir de 2011, passaram a denominar Coordenação da Educação das Relações de
Gênero e Diversidade Sexual; Coordenação da Educação Escolar Indígena; Coordenação da Educação Escolar
do Campo. E em 2012 inclui-se o Projovem Urbano.
8 Em 2011 com outro contexto político estas discussões passaram para a Coordenação da Educação das
Relações da Diversidade Étnico-Racial - CERDE.
17891
[...] para a divulgação e produção de conhecimentos, bem como atitudes, postura e
valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os
capazes de interagir, de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito
aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da
democracia brasileira (BRASIL, 2009, p.11).
Sendo assim, o objetivo da equipe multidisciplinar é desenvolver ações que positivem
a presença de alunas/os negras/os, indígenas, quilombolas, bem como, sua história, sua
cultura e sua religiosidade. Nesse sentido, compreende-se que a abordagem adotada pelas
equipes multidisciplinares, deve refletir sobre os processos de exclusão, racismo e preconceito
vivenciados por negras/os, indígenas, quilombolas. Mais que isso, as ações pedagógicas
propostas no plano de ação das equipes, devem buscar possíveis soluções para dinâmicas e
conflitos relacionais, que permeiam o cotidiano da escola e que visem uma educação
efetivamente democrática.
As Equipes Multidisciplinares: composição e funcionamento
Entre 2010 a 2011, as equipes multidisciplinares eram compostas de acordo com o
porte das escolas, ou seja, conforme critérios para cálculo de demandas (nº de matriculas, nº
de turmas, n° de profissionais, etc.).
A partir de 2012 estas equipes passaram a ser compostas por 30 (trinta) pessoas.,
distribuídas em 20 (vinte) da rede estadual (professoras/es, pedagogas/os, agente
educacionais, instâncias colegiadas, diretoras/es) e 10(dez) convidadas/os (mães, pais,
movimentos sociais, professores/as e funcionários/as da rede municipal, professoras/es de
instituições de ensino superior, representantes das Comunidades Remanescentes de
Quilombos, lideranças indígenas, entre outras/os).
Pensando o desenvolvimento das atividades foi pensado também no perfil do educador
seguindo as Orientações e Ações para a Educação da Relações Étnico-Raciais (2006, p.69)
que indica que este deve ser “[...] autônomo(a), intelectualmente, embora fincado(a) no
coletivo: alguém que dialoga, gosta de aprender e é pesquisador da sua prática diante dos
desafios, conflitos e situações que o cotidiano lhe oferece”.
Considerar esses parâmetros é importante, visto que o trato pedagógico da questão
racial no cotidiano escolar deve partir do princípio de este é um processo de reflexão
dinâmico e construtivo. Desta forma, as Orientações e Ações para a Educação da Relações
Étnico-Raciais (2006, p.69) pressupõe que a/o educadora/or apresente uma postura ativa,
comprometida, aberta para a aprendizagem e, sobretudo que reconheça sua importância no
processo de construção de ações pedagógicas cotidianas antirracistas, e que sua ação
pedagógica pode e deve fazer diferença na vida dos as estudantes com as/os quais entre em
contato.
Para o desenvolvimento do trabalho a equipe multidisciplinar propõem uma dinâmica
de encontros e seminários. Estas atividades são entendidas como formação continuada em
educação das relações da diversidade étnico-racial. Todas/os as/os participantes são
consideradas/os concluintes desta formação continuada, desde que participem e tenham
freqüência de 100 % (cem por cento) nos eventos obedecendo à carga horária sugerida9, no
início de cada ano letivo.
Para orientar e acompanhar as equipes multidisciplinares, a Coordenação da Educação
das Relações da Diversidade Étnico Racial - CERDE, realizou webconferências, direcionadas
para as/os técnicas/os pedagógicas/os responsáveis pela demanda nos 32 (trinta e dois)
Núcleos Regionais de Educação e Coordenação
Regional de Tecnologias na Educação–CRTE.
A implementação das equipes multidisciplinares, alcançou em 2012 um percentual de
60,5 % dos estabelecimentos de ensino da rede estadual de educação básica..10 No entanto,
obteve-se o registro de 1099 ações executadas envolvendo aproximadamente 18000 (dezoito
mil) pessoas. Resultados que demonstraram as potencialidades que este trabalho carrega. São
ações e produções significativas para processo de transformação do espaço escolar, da
comunidade e da sociedade.
Estratégias de ação das Equipes Multidisciplinares.
Mobilizar o coletivo é a primeira estratégia de ação das equipes multidisciplinares. A
partir daí, segue a elaboração do plano de ação, constituído por projetos vinculados à
realidade de cada escola e NRE, conforme os itens a seguir: identificação do estabelecimento
e integrantes da equipe multidisciplinar; objetivos a serem alcançados; justificativa das ações
a serem realizadas; cronograma; avaliações das ações e referências.
9 Em 2010: 22 horas de carga horária de formação; em 2011: 80 horas; em 2012: 60 horas; e em 2013 estão
previstas 60 horas.
10 Cálculo realizado pela equipe técnica da Coordenação da Relações da Diversidade Étnico–Racial–CERDE,
tendo como fonte dados apresentados no sistema organizado pela CELEPAR – Tecnologia da Informação e
Comunicação do Paraná.
Neste plano, as ações desenvolvidas, tanto os encontros, quantos os seminários tem
caráter organizativo e formativo:
i) os encontros acontecem no espaço escolar, com carga horária e cronograma de
execução sugerido pela SEED (para efeito de certificações), no entanto, este pode ser alterado
pela própria equipe de acordo com a dinâmica de tempo do estabelecimento escolar e do
NRE;
ii) os seminários envolvem o trabalho de docentes com conhecimento e/ou experiência
nas temáticas de ERER e no ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena.
Os eventos foram realizados ao longo do calendário letivo da escola, contemplando datas
significativas da comunidade local e na Semana da Consciência Negra como culminância das
atividades planejadas e desenvolvidas nos encontros das equipes multidisciplinares. Nas
escolas quilombolas e indígenas o período de realização e organização do seminário leva em
conta as especificidades das comunidades.
Seguindo as orientações enviadas pela SEED/DEDI/CERDE, as/os coordenadores/as
das equipes multidisciplinares são as/os responsáveis pelo registro da memória das atividades
desenvolvidas em cada encontro, bem como pelo registro do nome das/os presentes de cada
encontro, no portal da CELEPAR–Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná. Tais
informações são importantes, tanto para comprovações necessárias como controle de
frequência das/os participantes para que possam ser certificadas/os. Alem disso, serão
importantes para elaboração do memorial descritivo, que se propõe como um relato dos
possíveis caminhos ou descaminhos percorridos no desenvolvimento do plano de ação,
apresentando diagnóstico sobre características do contexto histórico, geográfico e
socioeconômico da comunidade escolar, no qual a equipe multidisciplinar está inserida. Esse
diagnóstico fornece dados para uma efetiva avaliação das possíveis mudanças de hábitos,
conceitos, visões de mundo, etc. A partir daí, se processa o registro das características da
comunidade escolar, onde é identificado o quadro dos sujeitos, apontando o número de
mulheres, homens, brancas/os, negras/os, quilombolas, indígenas e também informações das
relações de gênero e diversidade sexual.
Entendemos o trabalho das equipes multidisciplinares, como um importante processo
de reescrita da história, processo em que o protagonista são as/os professoras/es. As ações da
equipes permite organizar registros de ações, buscando soluções para dinâmicas e conflitos
relacionais, que permeiam o cotidiano da escola e visem uma educação efetivamente
democrática, em cada estabelecimento escolar e NRE, quanto à implementação de ações sobre
a educação das relações da diversidade étnico-racial.
Exemplos de ações premiadas

1-Equipe Multidisciplinar para Educação das Relações Étnico-Raciais: uma
possibilidade em andamento no Colégio Estadual Papa João Paulo I
Estabelecimento: Colégio Estadual Papa João Paulo I - Curitiba/PR.
Justificativa: Este plano de ação foi escolhido a partir de discussões diante da
necessidade e da importância do combate ao racismo, ao preconceito na escola e comunidade,
para a valorização das contribuições das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas na
constituição da diversidade étnico-racial de identidade, a fim de lutar pela democratização da
sociedade brasileira. A constituição dos atores do processo educacional, diz respeito à
comunidade em geral, professoras/es, equipe pedagógica e agente educacionais.
Objetivos: Ao entorno das finalidades desse plano de ação, compete o enfrentamento
do racismo e manifestações de intolerância a elementos correlacionados a cultura negra e
indígena, como por exemplo, as religiões de matriz africana.
Metodologia: após levantamento diagnóstico em relação às práticas educativas
realizadas na escola, este foi problematizado, por meio do vídeo sobre a “Infância sem
racismo” (UNESCO), acrescido de debate sobre a questão do preconceito. Os dados coletados
passa a servir como pontos cruciais para inserir no plano de ação. Como resultado dessa
intervenção, a equipe multidisciplinar deu início aos seguintes trabalhos: elaboração conjunta
entre os participantes de acervo físico e virtual de materiais referentes a filmes, livros, artigos
e outras referências que pudessem fundamentar a discussão sobre a intolerância religiosa que
persiste no imaginário social como práticas demoníacas, como é o caso do Candomblé e a
Umbanda, que são na verdade cultos de paz e devem ser respeitados. Para aproximação com a
temática, as/os alunas/os foram orientadas/os a elaborar pesquisas, confecção de cartazes,
entrevistas com membros de religiões de matriz africana ou afro-brasileira e visitação a lojas
de artigos de umbanda para receber informar sobre os significados de cada um desse
elementos/artigos/objetos, com o intuito de desmistificar as religiões de matriz africana e/ou
afro-brasileira.
A afirmação positiva e a construção de referenciais histórico-sociais de origem negra e
indígena na constituição da nação brasileira passa a estimular o respeito mútuo, o sentimento
de coletividade e o reforço da identidade cultural. Na continuidade fomentou-se discussões, a
partir do curta-metragem “Vista minha pele”, somado a atividades alternativas nos intervalos
de apresentação do projeto, como a capoeira de Angola e dança Maculelê.
Neste plano de ação, a escola é entendida como um espaço de vital importância na
socialização de inter-relações e que constrói o conhecimento junto à/os alunas/os, preparando
para a dinâmica da vida social em todas as áreas, assim faz-se necessário trabalhar com a
diversidade cultural e humana, propiciando elementos para a descolonização o formato
ocidental de pensar.
Avaliação: no primeiro momento foi difícil desenvolver o trabalho em questão, mas
com a persistência e a busca por alternativas metodológicas diferentes, houve a participação
efetiva da comunidade escolar.

2-História e Cultura Afro-brasileira, a nossa história
Estabelecimento: Colégio Estadual Brasílio de Araújo - Bela Vista do Paraíso/PR.
Justificativa: este projeto justifica-se pelo fato de ser uma possibilidade de valorização
do coletivo da escola. Tal valorização, ocorre por meio do conhecimento de sua própria
história, enquanto brasileiras/os ou afrodescendentes, bem como, pela oportunidade para
problematizar as relações étnico-raciais, proporcionando a apreensão de conhecimentos sobre
história e culturas africanas e afro-brasileiras.
Objetivos: debater e por em prática os valores de respeito, liberdade e diferenças, além
de reconhecer que a herança africana é fundamental na formação da cultura brasileira.
Metodologia: o desenvolvimento dos trabalhos foram o mais diversos, compreendendo
pesquisas sobre brinquedos e brincadeiras africanas, apresentações sobre cultura afrobrasileira
e/ou africana (maquetes, confecção de bonecas Abayomi, desfile de Beleza Negra,
dança dos Orixás, entre outras), culinária afro-brasileira, simbologia das cores africanas, etc.'
Avaliação: o envolvimento das/os educandos nas atividades propostas foi considerado
positivo. Entre o corpo docente houve uma pequena resistência para assumir o plano de ação
por diversos motivos: falta de entendimento da importância da ação, alegação de não tem
nada a ver com a matéria que ministram, entre outros. No entanto, a maioria das/os docentes,
mães e pais, direção participou da realização dos trabalhos com muito empenho, não mediram
esforços para ajudar no que foi preciso.
17896
Os exemplos de ações executadas nos permite perceber que diversos são os pontos de
partida para iniciar a discussão, desde ações culturais e educativas com os seguintes recursos:
vídeos, músicas, teatros, leitura de textos, jornais, construções e análises de dados. O interesse
então, por essas atividades, é despertado pela criatividade do grupo e experiências concretas
vivenciadas na realidade cotidiana.
Esses e outros resultados de planos de ação das equipes multidisciplinares que
obtiveram êxito foram premiadas e publicadas no material Catálogo Orirerê (palavra em
yorubá) - Cabeças Iluminadas. Uma parceria entre o Centro Cultural Humaitá, Secretaria de
Estado de Educação do Paraná, Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Fórum
Permanente da Educação das Relações Étnico-Raciais e Assembleia Legislativa. Essa
premiação tem o intuito de valorizar, dar visibilidade e socializar os saberes e experiências
pedagógicas desenvolvidas no espaço escolar público.
Essa produção chega a todos os estabelecimentos de ensino da rede pública da
educação básica do estado do Paraná e Núcleos Regionais de Educação, como material
didático de apoio ao trabalho pedagógico que envolve a formação para a educação das
relações étnico-raciais.
Considerações finais
Com os resultados dos planos de ação das equipes multidisciplinares, pode-se dizer
que a escola é um espaço privilegiado no que diz respeito aos trabalhos com temas trazidos
pelas Leis 10.6369/03 e 11.645/08, possibilitando a interação entre professoras/es, agentes
educacionais, alunas/os e pedagogas/os, de forma a permitir o reconhecimento da pluralidade
étnico-racial da comunidade escolar.
As ações desenvolvidas pelas equipes multidisciplinares voltadas para o cumprimento
da Lei 10.639/03 se colocam no campo da construção do conhecimento de forma que
impulsionem mudanças que sejam capazes de promover o reconhecimento e valorização à
diversidade étnico-racial.
Considerando os objetivos propostos, conclui-se que a implementação das equipes
multidisciplinares contribuíram e contribuem para a ampliação do diálogo no espaço escolar,
democratizando a informação, promovendo o debate profícuo sobre a realidade brasileira no
17897
que se refere à educação das relações étnico-raciais e ao ensino de história e cultura afrobrasileira,
africana e indígena.
Entendemos que é importante avançar na implementação para atingir os 100% das
escolas da rede estadual de educação. Para tanto, a Secretaria de Estado de Educação do
Paraná está implementando um/o sistema de monitoramento e registros das ações que
assegurem a elaboração de um plano estratégico para a construção de políticas públicas
educacionais que garantam uma educação democrática.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações da
Diversidade Étnico-Raciais e Para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana. Brasília: SECAD/ME, 2004. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=913&catid=194%3Asecad-educacaocontinuada&
id=13788%3Adiversidade-etnico-racial&option=com_content&view=article>.
Acesso em: 19 mai. 2013.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 19 mai. 2013.
BRASIL. Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira",
e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 19 de jun. 2013.
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 19 de
jun. 2013.
BRASIL. Plano Nacional das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e
Africana. Brasília: SECAD; SEPPIR, jun. 2009.
PARANÁ. Deliberação n° 04/2006 do Conselho Estadual de Educação – CEE. Normas
Complementares às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações da
Diversidade Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Disponível em:
<http://www.educacao.pr.gov.br/arquivos/File/deliberacoes/deliberacao042006.PDF>. Acesso
em: 19 de jun. 2013.
17898
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Educação Para as Relações Étnico-Raciais.
Curitiba, 2008.
PARANÁ. Secretaria de Estado da educação. História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana. Curitiba, 2008.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Instrução 010/2010 – SUED/SEED.
Disponível em:
<http://www.educacao.pr.gov.br/arquivos/File/instrucoes/instrucao102010.pdf> Acesso em:
19 de jun. 2013.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Resolução N°. 3399 / 2010 – GS/SEED.
Disponível em:
<http://www.nre.seed.pr.gov.br/pontagrossa/arquivos/File/Equipe%20de%20Ensino/Equipes
%20Multidisciplinares/documentos/Resolucao3399.pdf>. Acesso em: 19 de jun. 2013.
Prêmio Orirerê Cabeças Iluminadas 2012: projetos de aplicação das Leis 10.639/03 e
11.645/08. Curitiba: Centro Cultural Humaitá, 2012. 56p.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

África que a mídia não mostra para você


Publicado há 4 horas - em 10 de agosto de 2015 » Atualizado às 10:57 
Categoria » África e sua diáspora · Educação
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Uma criança negra e raquítica pedindo esmolas com um olhar perdido em uma paisagem árida e suja. Esse é o arquétipo que a mídia por anos vendeu sobre o “infeliz povo africano”. Embora a miséria seja uma realidade no continente, a narrativa de que tudo é fome, miséria e tragédia nunca esteve perto da verdade.
Trabalhar com a pobreza explícita também  tem sido a tática de comunicação de algumas ONGs que usam a miséria para angariar fundos. A tática pode até ser eficaz em aumentar os lucros, mas carimba a imagem de todo um continente que definitivamente tem muito a mostrar para o mundo.
Chimamanda Ngozi Adichie é uma romancista nigeriana que veio de uma família de classe média. O pai é professor e a mãe administradora.  Adichie foi estudar em uma universidade americana aos 19 anos de idade e em uma palestra proferida para o TED  , ela conta sobre sua experiência, de como sua companheira de quarto ficou chocada ao descobrir que ela podia falar Inglês (o inglês é a língua oficial da Nigéria) , que sabia como usar um fogão e que ouvia Mariah Carey em vez de “música tribal”.
“Ela sentia pena de mim antes mesmo de me conhecer.  Ela conhecia apenas uma única narrativa sobre a África. Sua ideia em relação a mim enquanto africana, era uma espécie de piedade paternalista bem-intencionada.   Era uma única narrativa de catástrofe. Nesta única narrativa, não havia nenhuma possibilidade dos africanos serem semelhantes a ela. Nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos que a piedade. Nenhuma possibilidade de uma relação entre humanos iguais.”
Em resposta à esta simplificação da identidade Africana, e contra a narrativa única que apenas vende a miséria e o sofrimento, os africanos foram para as mídias sociais  mostrar a diversidade do continente. A estudante somali-americana, Diana Salah , 22, criou uma campanha no Twitter com a hashtag #TheAfricaTheMediaNeverShowsYou . Desde de que começou, há uma semana, a hashtag já foi usado mais de 54.000 vezes.
É certo que o continente possui grandes bolsões de pobreza, assim como ocorre em muitos lugares do mundo, incluindo o Brasil. Mas a narrativa sobre as histórias de felicidade, de talento e de sucesso dificilmente chegam até nós.  Aqui estão alguns tweets que irão fazer coçar os pés do povo da mochila:


Leia a matéria completa em:  África que a mídia não mostra para você - Geledés http://www.geledes.org.br/africa-que-a-midia-nao-mostra-para-voce/#ixzz3iR1z7vdA 
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A desvalorização da Vida Negra: uma violência simbólica com consequências reais


Publicado há 3 horas - em 10 de agosto de 2015 » Atualizado às 11:22 
Fonte: Geledés Instituto da Mulher Negra.
Categoria » Artigos e Reflexões
violencia racial

Os negros são as maiores vítimas da violência no Brasil. A posição social do negro contribui largamente para esta estatística, uma vez que são a demografia mais afetada pela desigualdade socioeconômica. Contudo, há razões para acreditar que não apenas a sua condição socioeconômica, mas também o preconceito racial contribua para esta estatística, o que nos urge para a necessidade de uma mudança do paradigma racial.
por Eliabe Ribeiro Vidal via Guest Post para o Portal Geledés
O brasileiro está acostumado a ver o corpo negro violentado. Não causa choque. Não é novidade. Isto vem acontecendo desde o século XVI, com o início da escravidão negra no Brasil, quando seus corpos eram abatidos, às vezes até à morte, para provocar sua submissão. Com o fim da escravidão, a discriminação racial e a vulnerabilidade social do negro perpetuaram sua exposição à violência.
À altura em que as mulheres e os homens de pele negra foram libertos, ideias negrofóbicas permeavam a sociedade brasileira. A inferiorização do negro ajudava a aliviar a consciência moral dos opressores, servindo como justificativa para as crueldades cometidas contra os mesmos. A ciência afirmava a inferioridade biológica do negro. No âmbito político, tomaram-se medidas que visavam o embranquecimento do país – proibição da entrada de imigrantes africanos, incentivo à imigração europeia, ausência de políticas públicas direcionadas à população negra.
A religião afirmava que os negros eram amaldiçoados pela “maldição de Cã”. Havia, portanto, uma continuidade entre o físico e o simbólico: entre a cor da pele e a capacidade moral, intelectual e estética do negro livre – ideia que penetrou o imaginário popular e, de forma sutil, parece permanecer lá até os dias atuais, deixando um legado determinante na forma como o negro é representado culturalmente.
Numa sociedade racista, os negros não são indivíduos, mas um coletivo. O indivíduo negro representa o coletivo negro e, portanto, as representações artísticas, midiáticas e culturais do negro influenciam a forma como os negros se percebem e são percebidos. As imagens do negro às quais somos repetidamente expostos influenciam como os negros veem a si mesmos e como são vistos pelos outros.
O cinema e a televisão brasileiros retratam os negros repetidamente como pobres, criminosos e violentos ou como uma “exceção” vivendo num contexto pobre, criminoso e violento, sendo afetado mais ou menos pelo ambiente em que se encontra inserido.
A pobreza, numa sociedade capitalista, contribui para a desvalorização da vida negra, enquanto o crime e a violência desumanizam-na. Além disso, a grande mídia muitas vezes falha ao representar o negro como o protagonista da violência, mas não como a principal vítima dela. Embora os indicadores sociais demonstrem que muitos negros realmente vivam com a pobreza, o crime e a violência, esta representação midiática repetitiva falha em muitas vezes não contar a história completa.
Como nos alertou a autora nigeriana Chimamanda Adichie em sua famosa palestra “O perigo de uma única história”, os estereótipos não são perigosos por serem falsos, mas por contarem apenas um lado da história e nos privar de outros referenciais. Esta representação repetitiva do negro reduz a diversidade de papeis que os mesmos podem assumir, privando-os de uma construção de identidade diversificada e plena de possibilidades.
Os negros são também constantemente sub-representados numericamente nestes veículos de informação, o que diminui não só a possibilidade de diversidade representativa, como também contribui para o estranhamento racial e para a mídia da brancura como norma e modelo de humanidade.
A indústria midiática às vezes justifica o uso de estereótipos com a desculpa de que “o que é familiar tende a ser mais rentável”. Contudo, os negros têm contribuído cada vez mais para os lucros das grandes empresas, e, cada vez mais conscientes e resistentes ao racismo, desejam se ver representados de forma diversa em filmes, séries, novelas, jornais, entre outros veículos midiáticos. Além disso, quando o que é familiar contribui negativamente para a sociedade, é hora de se introduzir um novo paradigma. Sim, é necessário denunciar a pobreza, o crime e a violência que assolam a população negra e a mídia deve indubitavelmente servir a esta causa, mas não limitar a experiência negra a ela. A demanda da população negra é por um novo paradigma, pela ressignificação de valores simbólicos, que valorizem a estética, história, culturas e, principalmente, as vidas negras.
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Leia a matéria completa em:  A desvalorização da Vida Negra: uma violência simbólica com consequências reais - Geledés http://www.geledes.org.br/a-desvalorizacao-da-vida-negra-uma-violencia-simbolica-com-consequencias-reais/#ixzz3iQxG9w5J 
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