RACISMO,
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
Considerações Gerais do Texto de Véra Neusa Lopes realizado pela professora Leda Beatriz Laurensi
do Colégio Estadual Cristo Rei de Francisco Beltrão - Paraná - Brasil
A
Educação Escolar possui caráter obrigatório e deve, com base nas
leis vigentes:
-caracterizar-se
como processo de desenvolvimento do indivíduo, identificando um
modelo educacional receptivo às mudanças;
-propor o
conhecimento a partir da realidade com base no diálogo;
-preocupar-se
em colocar o professor na obrigação de romper o papel de reprodutor
do conhecimento, buscando uma nova postura de agilizador da produção
de conhecimento, juntamente com os alunos e a comunidade, construindo
o saber de forma coletiva;
-entender
e colocar o aluno no centro do processo educativo, transformando-o em
sujeito do conhecimento construido e produzido.
O
primeiro passo para que isso se estabeleça é partir da realidade em
que nos encontramos, buscando um projeto coletivo para que as
mudanças sociais aconteçam, num modelo inclusivo e de qualidade,
colocando professores e alunos frente a frente com os novos desafios
da aprendizagem.
Temos
que construir uma nação livre, soberana e solidária, onde o
exercício da cidadania não seja só o privilégio de poucos, mas o
direito de todos.
Para
tanto, devemos ter como objetivos no trabalho pedagógico:
-compreender
a cidadania;
-posicionar-se
de maneira crítica;
-conhecer
e valorizar a pluralidade; e
-questionar
a realidade.
É
necessário também:
-compreender
o conceito de justiça;
-adotar
atitudes de respeito pelas diferenças;
-compreender
a vida escolar como participação (espaço público);
-valorizar
e empregar o diálogo;
-construir
uma imagem positiva de si; e
-assumir
posições segundo seu próprio juízo de valor.
RACISMO, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇ‹O
Procedimentos didático-pedagógicos e
a conquista de novos comportamentos
Véra Neusa Lopes
Professora e Técnica em Educação do Estado do Rio Grande do Sul.
Bacharel e licenciada em Ciências Sociais, com especialização em
Planejamento da Educação.
Assessora dos Agentes de Pastoral Negros/Rio Grande do Sul,
para Assuntos de Planejamento na Área da Educação.
Considerações iniciais
A educação escolar, de caráter obrigatório, prevista nas leis de ensino
vigentes, deve:
a) caracterizar-se como processo de desenvolvimento do indivíduo
– dinâmico, em permanente transformação e atualização – identificando,
portanto, um modelo educacional não fechado, receptivo às mudanças que
ocorrem na sociedade e que, conseqüentemente, se refletem na escola (micro-
sistema) e nela interferem;
b) propor o conhecimento como processo de aproximações e produto
de construções sucessivas, a partir da realidade, como resultado do
diálogo permanente estabelecido entre os sujeitos, em razão do objeto de
aprendizagem, numa ação contínua de troca e ampliação dos saberes. Isto
significa que não há conhecimento acabado, pronto e que sempre, ao longo
da vida, da qual o tempo escolar é apenas um dos segmentos, o homem tem
oportunidades variadas de realizar aprendizagens que se expandem e que
se completam, tendo o real como base a partir do qual as aprendizagens
acontecem e o diálogo como estratégia principal de sustentação dessas
aprendizagens;
c) preocupar-se em colocar o professor na obrigação de romper com o
papel que, tradicionalmente, tem assumido – de reprodutor de conhecimento
– levando-o a uma nova postura de agilizador da produção de conhecimento
em parceria com seus alunos e a comunidade, na construção coletiva do
saber, o que se traduz pelo processo de ajuda mútua que deve estabelecer-se
entre professor e aluno;
d) entender e colocar o aluno como centro do processo educativo,
transformando-o, efetivamente, em sujeito do conhecimento construído/
produzido, sendo aquele que, com o apoio do professor, aporta novos
saberes aos que já detém, invalidando a idéia de que o aluno aprende porque
o professor ensina.
Considerando o modelo de educação que ora é proposto em âmbito
nacional, essa nova ordem pedagógica coloca a problematização como a
forma adequada de abordagem indispensável para que se construam efetivos
conhecimentos escolares, a partir do estabelecimento de relação crítica entre
as realidades – presente/presente, presente/passado – 3e expectativas de
futuro, com a possibilidade de, usando a criatividade, antever alternativas
de soluções para problemas existentes, como por exemplo, os de racismo,
preconceito e discriminação racial, realidades em nosso meio.
Procedimentos de pesquisa, em nível escolar, são relevantes para o melhor
conhecimento da realidade, embasando medidas e ações que não perpetuem
o “status quo”. Tais procedimentos devem ser utilizados desde os primeiros
anos escolares, associados a outros que vão permitindo a professor e alunos
o alargamento de seus horizontes culturais e, por conseqüência, uma nova
visão de mundo em que todos perdem com á prática do racismo, sentimentos
de preconceito e ações de discriminação racial.
Um olhar atento sobre a realidade do povo brasileiro mostra uma
sociedade multirracial e pluri-étnica que faz de conta que o racismo, o
preconceito e a discriminação não existem. No entanto, afloram a todo
momento, ora de modo velado, ora escancarado, e estão presentes na vida
diária.
Por outro lado, a educação escolar está profundamente comprometida
com um projeto coletivo de mudanças sociais, independentemente da
diversificação cultural dos vários grupos étnicos que compõem a sociedade,
considerando que as diferenças culturais e étnicas são enriquecedoras na
conformação e organização do tecido social.
Então, para que esse compromisso se efetive é fundamental que,
trabalhando com a realidade, num diálogo permanente, numa situação de
aprendizagem contextualizada, usando procedimentos adequados, o aluno se
descubra membro atuante dessa sociedade, na qual pode e deve ser capaz de
interferir e promover modificações que conduzam a um clima de verdadeira
cidadania e democracia.
É preciso insistir sempre que a sociedade brasileira é preconceituosa e
discriminadora em relação à sua população. Em decorrência, o modelo de
educação não tem sido inclusivo, ainda quando permita a entrada de todos na
escola. Todos entram, ou a maioria entra, mas nem todos saem devidamente
escolarizados, aptos a enfrentar a vida como verdadeiros cidadãos. A
instituição escolar precisa desenvolver programas que, reconhecendo as
diferenças e respeitando-as, promovam a igualdade de oportunidades para
todos, o que se traduz pela oferta de escola de qualidade.
Os negros, ao longo da história do Brasil, têm sido, juntamente com os
índios, os mais discriminados. Essa questão deve ser abordada na escola,
incluída objetivamente no currículo, de tal forma que o aluno possa
identificar os casos, combatê-los, buscar resolvê-los, fazendo com que todos
sejam cidadãos em igualdade de condições, a despeito das diferenças e
especificidades que possam existir.
Forçoso é reconhecer, porém, que muitos professores não sabem como
proceder. É preciso ajudá-los, pondo ao seu alcance pistas pedagógicas
que coloquem professor e alunos frente a frente com novos desafios de
aprendizagem.
O combate ao racismo, ao preconceito e à discriminação, em nível
escolar, deve tomar as mais diferentes formas de valorização da pessoa
humana, povos e nações, valorização que se alcança quando descobrimos
que as pessoas, mesmo com suas dessemelhanças, ainda são iguais entre si
e iguais a nós, com direito de acesso aos bens e serviços de que a sociedade
dispõe, de usufrui-los, criar outros, bem como de exercer seus deveres em
benefício próprio e dos demais.
O esforço a ser desenvolvido, a partir desta proposta que aqui fazemos,
deve extrapolar as fronteiras da sala de aula, derramar-se por sobre a escola
e atingir a comunidade em torno dela, permitindo a todos os envolvidos
novos comportamentos compatíveis com a conquista da cidadania numa
sociedade verdadeiramente democrática.
O desafio está posto. Mãos à obra em busca de soluções!
Racismo, preconceito e discriminação: contrapontos da cidadania
Construir uma nação livre, soberana e solidária, onde o exercício da
cidadania não se constitua como privilégio de uns poucos, mas direito de
todos, deve ser a grande meta a ser perseguida por todos segmentos sociais.
As pessoas não herdam, geneticamente, idéias de racismo, sentimentos
de preconceito e modos de exercitar a discriminação, antes os desenvolvem
com seus pares, na família, no trabalho, no grupo religioso, na escola.
Da mesma forma, podem aprender a ser ou tornar-se preconceituosos e
discriminadores em relação a povos e nações. Para Valente:
a) preconceito racial é idéia preconcebida suspeita de intolerância e aversão
de uma raça em relação a outra, sem razão objetiva ou refletida. Normalmente,
o preconceito vem acompanhado de uma atitude discriminatória;
b) discriminação racial é atitude ou ação de distinguir, separar as raças,
tendo por base idéias preconceituosas.
O Programa Nacional de Direitos Humanos considera o preconceito
como atitude, fenômeno intergrupal. dirigido a pessoas ou grupos de pessoas;
é predisposição negativa contra alguém; algo sempre ruim: predisposição
negativa, hostil, frente a outro ser humano; desvalorização do outro como
pessoa, considerado indigno de convivência no mesmo espaço, excluído
moralmente.
A discriminação supervaloriza determinadas culturas, dá ao dominador
a idéia de que é o melhor e desenvolve no discriminado o sentimento
de menos-valia. Permite que a sociedade seja considerada sob duas óticas
distintas e divergentes:
. a do discriminador, que manda e se considera o mais capaz, o mais
culto, o dono do mundo e das pessoas, que sempre estabelece as regras do
jogo que lhe interessa, que mantém sua auto-estima em alta às custas do
outrem.
. a do discriminado, que fica à mercê das decisões do discriminador, o
qual tenta organizar a vida do grupo social em função de seus interesses e
privilégios; que tem de lutar bravamente para elevar sua auto-estima, que
tem de construir sua identidade a duras penas.
A escola, como parte integrante dessa sociedade que se sabe preconceituosa
e discriminadora, mas que reconhece que é hora de mudar, está comprometida
com essa necessidade de mudança e precisa ser um espaço de aprendizagem
onde as transformações devem começar a ocorrer de modo planejado e
realizado coletivamente por todos os envolvidos, de modo consciente.
Professor e alunos devem organizar-se em comunidades de aprendizagem,
onde cada um chegue com seus saberes e juntos vão construir novos
conhecimentos num processo de trocas constantes, desmistificando
situações de racismo, preconceito e discriminação arraigados nos grupos
sociais e nas pessoas individualmente. Nesse aprender coletivo, professor e
alunos acabam por enriquecer o processo educativo para ambos os sujeitos
da aprendizagem. Especialmente quando se trata de racismo, preconceito e
discriminação, o investigar e o aprender juntos garantem aprendizagens de
melhor qualidade, porque ruídas coletivamente.
A educação escolar deve ajudar professor e alunos a compreenderem que
a diferença entre pessoas, povos e nações é saudável e enriquecedora; que
é preciso valorizá-la para garantir a democracia que, entre outros, significa
respeito pelas pessoas e nações tais como são, com suas características
próprias e individualizadoras; que buscar soluções e fazê-las vigorar é uma
questão de direitos humanos e cidadania.
Aprendendo a se ver, a ver o seu entorno (família, amigos, comunidade
imediata) de modo objetivo e crítico, a comparar todos elementos com os de
outros tempos e lugares, a criança desenvolve comportamentos adequados
para viver numa sociedade democrática.
A proposta didático-pedagógica apresentada, com algumas pistas para
o professor, leva em conta esses contrapontos da cidadania – o racismo, o
preconceito e a discriminação – e destaca sempre que:
a) quem tem idéias preconceituosas e discrimina – menospreza ou
despreza outras pessoas, grupos sociais, povos ou nações; desrespeita aquele
ou aquilo que considera diferente e, por isso, inferior; domina, subjuga
(pois assume o papel de amo e senhor em relação ao outro), pensa deter
o poder, gera conflito, é intolerante, tem mania de superioridade, mesmo
quando não é o melhor; pensa que os demais são inferiores e devem ser seus
subalternos; escraviza; induz o outro a ter baixa auto-estima.
b) quem aprende a não prejulgar e a não discriminar – respeita as
diferenças entre pessoas, povos e nações, busca o equilíbrio nos grupos a
que pertence, reconhece que a vida só é possível porque pessoas, povos e
nações são interdependentes; tem auto
estima em alta; exercita o bem-querer em relação aos outros (pessoas,
povos e nações).
A proposta pedagógica deve voltar-se, assim, para um trabalho continuado
de valorização das pessoas, povos e nações, num combate permanente às
idéias preconcebidas e às situações de racismo e discriminação com que nos
defrontamos no dia-a-dia.
Não esquecer dos objetivos
Quando a finalidade é construir a cidadania numa sociedade pluriétnica
e pluricultural. como é o caso da sociedade brasileira, é preciso que se tenha
presente um elenco de objetivos com os quais se deve trabalhar. Por exemplo,
os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem, hoje, uma referência
que nenhum professor pode desconhecer. A seguir, estão sugeridos alguns
objetivos que podem nortear o trabalho a ser realizado. Outros poderão ser
buscados e selecionados.
Como objetivos do ensino fundamental, de caráter mais geral, podemos
destacar:
• Compreender a cidadania como exercício de direitos e deveres políticos,
civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade,
cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo
para si o mesmo respeito.
• Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes
situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos
e de tomar decisões coletivas.
• Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais,
materiais e culturais como meio para construir progressivamente a
noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência
no país.
• Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural
brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos, e
nações, posicionando-se contra qualquer discriminação, baseada em
diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou
outras características individuais ou sociais.
• Questionar a realidade, formulando-se problemas e tratando de
resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a
intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos
e verificando sua adequação.
Contidos nos objetivos do ensino fundamental estão os objetivos de
ética, também propostos pelo PCN, relevantes na medida em que o racismo,
preconceito e discriminação têm a ver com valores e atitudes do homem em
suas relações quotidianas com os outros homens. Sugerimos os que seguem,
podendo o professor selecionar outros:
• Compreender o conceito de justiça baseado na eqüidade e sensibilizar-
se pela necessidade da construção de uma sociedade justa.
• Adotar atitudes de respeito pelas diferenças entre as pessoas, respeito
esse necessário ao convívio numa sociedade democrática e pluralista.
• Compreender a vida escolar como participação no espaço público,
utilizando e aplicando conhecimentos adquiridos na construção de
uma sociedade democrática e solidária.
• Valorizar e empregar o diálogo como forma de esclarecer conflitos e
tomar decisões coletivas.
• Construir uma imagem positiva de si, o respeito próprio traduzido
pela confiança em sua capacidade de escolher e realizar seu próprio
projeto de vida e pela legitimação das normas morais que garantam, a
todos, essa realização.
• Assumir posições segundo seu próprio juízo de valor, considerando
diferentes pontos de vista e aspectos de cada situação.
Cabe ao professor selecionar e retirar do projeto pedagógico em
desenvolvimento na escola aqueles objetivos que digam respeito à cidadania
e à democracia e permitam ao aluno um trabalho continuado contra o
racismo, o preconceito e a discriminação.
Definidos a partir do projeto pedagógico e previstos nos planos de curso,
os objetivos de ensino deverão expressar os conceitos, os procedimentos,
as atitudes e os valores a serem construídos em sala de aula por alunos e
professores.
Procedimentos didático-pedagógicos
Por fim, chegamos à proposta que deve ser lida e entendida como um
conjunto de pistas para ajudar o professor na árdua tarefa de trabalhar com
seus alunos questões de racismo, preconceito e discriminação. Não pretende
colocar o professor numa camisa-de-força, apenas ajudá-lo a encontrar seus
próprios caminhos, em que terá como parceiros seus alunos.
Para facilitar, apresentamos um cenário: escola de 1a à 4a série, situada em
uma comunidade na periferia de uma cidade de pequeno porte; Classe de 2a série
ou 1a ciclo do ensino fundamental, com 30 alunos, entre 7 e 10 anos de idade;
crianças brancas de origem italiana, outras de origem alemã, alguns negros e
uns pouco descendentes de japoneses; professora negra (poderia ser de qualquer
outra etnia); quando se desentendem, é comum que sejam ouvidas expressões
como negro, saroba, japa, alemão batata, gringo, sendo que os atributos que
acompanham a expressão negro são sempre os mais ofensivos.
O que poderá ser feito?
• Criar situações que despertem o interesse das crianças para a questão
de semelhanças e diferenças entre os componentes da classe, incluindo
a professora. Exemplo: reunir as crianças em roda para conversarem
sobre cada um, explorando perguntas tais como “Quem sou?” e
“Como sou?” Deixar que uma criança comece ou, se for muito difícil,
começar pela professora que dará seu endereço, idade, filiação e se
apresentará com suas características físicas, gostos, preferências e usar,
se for possível, com naturalidade a expressão “sou negra”, se for o caso,
ou “sou árabe”, ou “sou alemã”, ou “sou índia”, ou “sou nissei”, ou
“sou sansei”. Observar a reação das crianças; não fazer comentários.
Fazer com que todos se apresentem.
• Se for necessário, desenvolver essa conversação por vários dias, de
modo que todos tenham a oportunidade de falar. Exercitar com os
alunos a habilidade de falar para um grupo e de ouvir os outros.
• Conversar com as crianças sobre o fato de todos serem brasileiros e
estabelecer com elas a diferença entre descendência e procedência.
• Pedir a ajuda dos pais, se for o caso, para que as crianças possam fazer
um retrato falado de si mesmos. Envolver os pais nas atividades, se
julgar oportuno e conveniente.
• Propor que as crianças, aos pares, se observem e expressem oralmente
como vêem o seu parceiro. Descrever como vêem a professora.
Comentar as verbalizações.
• Pedir às crianças que tragam para sala de aula uma fotografia recente.
Tirar uma fotografia de toda a turma. Observar com as crianças as
fotos isoladamente e a foto coletiva. Registrar as observações. Examinar
fotos mais antigas e registrar as observações.
• Verificar a existência de algumas diferenças e semelhanças constatadas.
Registrar as descobertas em uma folha de papel de embrulho, que
poderá ir sendo usada ao longo do trabalho. Por exemplo, algumas
diferenças: alguns são meninos, outras são meninas; nem todos têm
a mesma altura; todos têm nome e sobrenomes diferentes; uns são
magros, outros são gordos, uns têm a cor da pele bem clara, outros têm
a cor da pele mais escura; uns são brancos, de origem italiana, outros
são brancos de origem alemã, outros são de origem japonesa, outros
são de origem afro-brasileira. Existem semelhanças como: todos têm
entre 7 e 10 anos, todos moram no mesmo bairro, todos são brasileiros,
embora as origens possam ser diferentes; todos são saudáveis.
• Analisar com a classe os dados colhidos. Ajudar os alunos a observar
que apresentam diferenças e semelhanças, entre si e com a professora.
Observar, por exemplo, que a cor da pele não serve para definir quem
é branco ou não branco, porque há negros que têm a pele branca, há
descendentes de japoneses que também têm a pele bem clara; que se
vestem de modo diferente e podem ter hábitos alimentares e tradições
diferentes por causa de sua etnia ou de sua procedência.
• Trabalhar com as crianças a questão dos direitos humanos e dos direitos
da criança. Escolher, com elas, textos, poesias e canções que falem desses
direitos. Decodificar as mensagens. Dramatizar. Cantar. Conhecer a
vida dos autores. Buscar informações na cultura popular. Trabalhar
com autores negros brasileiros da música popular brasileira.
• Se possível, organizar visitas a instituições culturais, museus, casas de
cultura, existentes na comunidade ou na cidade, para aprender mais
sobre cultura, diversificação cultural, etnias formadoras da sociedade
brasileira.
• Explorar as diferentes culinárias e outras manifestações culturais
existentes, preservadas pela comunidade. Pesquisar, na comunidade,
possíveis traços culturais de outros grupos étnicos, além dos negros.
• Destacar a questão do negro e levar a criança a observar se há, na
sala de aula, meninas e/ou meninos que usam penteados afros. Levar
as crianças a observar como é difícil e demorado fazer um penteado
afro nas mulheres. Recortar em jornais e revistas ilustrações de pessoas
que estão usando um desses penteados. Expor. Trazer para sala de
aula ilustrações de artistas, como Rugendas e Debret, que, já na época
colonial, mostravam como eram os penteados dos negros no Brasil.
Comparar com os penteados atuais (Figuras 1 e 2).
Figuras 1: Debret – Escravos de diferentes nações.
Figura 2: Debret – Negros de diferentes nações.
• Planejar com as crianças a busca de mais informações sobre os negros
brasileiros. Organizar na sala de aula cantinhos das surpresas, onde
poderão ser expostos reálias, documentos, ilustrações, vestimentas.
Usar a entrevista como recurso para descobrir mais sobre o assunto
em pauta. Descobrir, na comunidade, pessoas negras que tenham
algo interessante para contar, permitindo reconstituir a história da
localidade.
• Comparar, com as crianças, as formas de vida dos negros da comunidade
onde está a escola com o modo de vida dos escravos. Novamente, valer-
se de ilustrações de Rugendas e Debret (Figuras 3, 4, e 5). Recriar, com
as crianças, a partir dos materiais a que tiverem acesso, a representação
das idéias trabalhadas.
Figura 3: Rugendas – Negros serradores de tábuas
Figura 4: Debret – Negro vendedor de carvão e vendedoras de milho
Figura 5: Debret – Vendedores de capim e leite
• Localizar, com o auxílio de recursos audiovisuais disponíveis, os
pontos de onde vieram os negros. Refazer, então, as rotas seguidas.
Localizar os pontos de entrada dos negros no Brasil. . Levantar alguns
dados dos dias atuais e verificar semelhanças e diferenças de modos de
vida dos negros. Observar, com as crianças, que a África é um grande
continente, formado por muitas nações. Descobrir de quais nações
vieram os negros que chegaram ao Brasil.
• Pesquisar, em conjunto com as crianças, sobre hábitos e costumes que
os brasileiros têm e que são de origem africana. Levantar o vocabulário
de origem africana.
• Questionar com as crianças se elas conhecem alguém que não gosta de
outras pessoas porque são negras, são pobres, são “polacos”, são judeus
ou são ciganos, que não gostam de índios porque são “preguiçosos”.
O que elas pensam disso? O que podem e querem fazer para que isso
não aconteça em sua classe, em sua escola, em suas famílias?
• Encorajar os alunos a que expressem seus sentimentos de diferentes
formas verbais e não verbais. Conversar sobre o significado de cada um
deles e os possíveis motivos pelos quais existem. Usar a dramatização
como forma de expressão.
• Utilizar diferentes formas de comunicação verbal e não verbal para
apresentar os trabalhos realizados e relativos às questões de preconceito
e discriminação raciais e étnico-culturais.
• Produzir textos coletivos, abordando questões de racismo, preconceito
e discriminação.
• Criar espaços, no âmbito da escola, para que os alunos possam
apresentar jornal falado, jornal mural, dramatizações cujo conteúdo
trate da diversificação étnica e cultural existente no Brasil e do papel
que o negro tem desempenhado na formação da sociedade brasileira.
• Criar situações em que as crianças possam imaginar como será o
futuro se nada for feito para eliminar o racismo, o preconceito e a
discriminação. Representar esse futuro.
• Propor às crianças que elaborem um documento, onde expressem as
ações que podem realizar, para que não haja mais racismo, preconceito
e discriminação na escola, entre seus amigos, na comunidade, nas
famílias, assumindo responsabilidades no cumprimento dos direitos e
deveres de cada um como cidadãos.
• Criar condições para que as crianças desenvolvam o sentido do nós, de
pertencer a um grupo, com direitos e deveres, com objetivos comuns,
mantendo, contudo, sua individualidade e diferenciação cultural,
étnica e de gênero.
• Pesquisar sobre artistas que tenham a ver com: diferenciação cultural,
cultura nacional, preconceito, discriminação. Recriar as obras. Analisar
com as crianças, por exemplo, algumas obras de Aleijadinho, danças
de origem africana ainda existentes, manifestações culturais como os
maçambiques, em Osório/RS.
• Visitar museus e casas de cultura, se possível, como oportunidade
para aprender mais sobre cultura, democracia, cidadania e etnias que
formaram a sociedade brasileira.
• Pesquisar, na comunidade, possíveis traços culturais de outros grupos
étnicos, além dos deixados pelos negros. Pedir a colaboração de pessoas
entendidas para explicá-los à classe. Descobrir modos de preservar esses
traços. Descobrir na comunidade pessoas negras que tenham algo a
contar.
• Produzir textos coletivos, abordando questões de preconceito e
discriminação, e organizar coletâneas, colocando-as à disposição da
comunidade escolar.
• Observar o grupo para perceber os sentimentos de cada criança em
relação à diferenciação étnica, cultural, de gênero, etc., existentes na
sala de aula.
• Fazer perguntas ao grupo sobre o que sabem sobre usos e costumes, a
língua e as artes dos povos representados na sala de aula. Mapear com
as crianças a situação detectada. Levantar informações sobre a cultura
africana.
• Listar os sentimentos que os componentes do grupo manifestam
sobre as questões em estudo. Por exemplo: felizes, infelizes, surpresos,
curiosos, chocados, envergonhados, orgulhosos. Analisar com o grupo.
Valorizar os positivos. Buscar formas de minimizar os negativos.
• Pesquisar situações de preconceito ou discriminação, bem como de
valorização das pessoas, apresentadas pelos meios de comunicação.
Analisar com as crianças, identificando os pontos negativos e os
positivos. Questionar em grupo o que poderá ser feito para mudar a
situação. Criar faixas, cartazes com manchetes, destacando os aspectos
positivos.
• Selecionar um problema, dentre os levantados, e elencar possíveis
soluções. Considerar para cada solução quais serão as conseqüências
esperadas.
• Repensar, em grupo, novas soluções, quando a adotada não estiver
apresentando resultados desejáveis.
Este elenco de procedimentos e outros tantos que o professor, com
certeza, descobrirá, podem ser desenvolvidos em inúmeras situações ao
longo do ano letivo, quando o foco poderá ser outra etnia.
O Brasil precisa de professores dispostos a fazer a revolução das pedagogias.
Cada um de nós está convocado a entrar nesse grupo.
REFER ̄NCIAS BIBLIOGR ̆FICAS
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BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros
curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
________. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas
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Suplemento Especial Direitos Humanos. Encarte do Jornal Radcal. Fundação
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filho. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
VALENTE, Ana Lúcia E. F. Ser negro no Brasil hoje. São Paulo: Moderna,
1998.
ANEXO
Subsídios de apoio
O professor encontrará nas matérias, a seguir indicadas, informações
relacionadas ou diretamente pertinentes ao tema desenvolvido, que
poderão indicar pistas para enriquecimento ou aperfeiçoamento do
trabalho pretendido. São artigos da Revista do Professor, com divulgação
nacional e, praticamente, presente em todos os municípios brasileiros.
ANDRADE, Maria Márcia Brito. Conhecendo os heróis e a luta do
negro no Brasil. Revista do Professor, n. 41, jan./mar. 1995.
________. Povos indígenas. Tradições, usos e costumes merecem ser
resgatados na escola. Revista do Professor, n. 46, abr./jun. 1996.
________. Escola promovendo resgate de cultura popular. Revista do
Professor, n. 49, jan./mar. 1997.
________. Dramatização e teatro a partir da sala de aula. Revista do
Professor, n. 51, jul./set. 1997.
BRITTES, Alexandre Alves. Jornal Falado. Recurso utiliza diferentes
meios e instrumentos de comunicação. Revista do Professor, n. 56, out./
dez. 1998
CINEL, Nora Cecília Bocaccio. Memória. Funções no processo de
aprendizagem. Revista do Professor, n. 32, out./dez. 1992.
ENTRELAÇANDO vida e arte no lugar onde vivemos. Cotidiano do
aluno torna-se mais significativo. Revista do Professor, n. 50. abr./jun.
1997.
FERREIRA, Maria Lúcia Canto. Professores promovem integração pelo
teatro. Revista do Professor, n. 42, abr./jun. 1995.
________. Teatro na escola. Uso dos jogos dramáticos gera efeitos
benéficos. Revista do Professor, n. 54, abr./jun. 1998.
FISCHER, Beatriz T. Daudt. Desafio: ensinando a partir da realidade.
Revista do Professor, n. 32, out./dez. 1992.
202
Racismo, preconceito e discriminação
GRINSCHPUN, Iafa. Autonomia. Processo requer relação de respeito e
afeto. Revista do Professor, n. 32, out./dez. 1992.
HEMIELEWSKI, Ada Maria. Trabalhar poesia é aprender a olhar e a
sentir o mundo. Relação que se estabelece com a criança é lúdica e
emotiva. Revista do Professor, n. 27, jan./mar. 1994.
LOPES, Jader Janer Moreira. Aprendendo estudos sociais na cozinha.
Revista do Professor, n. 48, out./dez. 1996.
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