Sabemos que, ao longo da história do Brasil, as manifestações culturais afro-brasileiras foram marginalizadas, sofrendo, inclusive, perseguições por não fazerem parte do universo cultural europeu e, também, por serem produzidas por negros escravizados e seus descendentes. A partir do século
XX, elas começaram, aos poucos, a fazer parte das celebrações culturais da sociedade brasileira. No entanto, o racismo e a discriminação racial presentes em nossa sociedade impedem que estas expressões culturais de origem africana cheguem efetivamente à escola, como em outros ambientes educacionais. Nesse sentido, a Lei no 10.639/03 estabelece que a cultura afro- brasileira faça parte das atividades cotidianas da escola, não aparecendo apenas em datas comemorativas, como 20 de novembro, por exemplo.
Na intenção de auxiliar as professoras e os professores da Educação Infantil nesse desafio, apresento uma sugestão de atividade para ser desenvolvida na escola. É o maracatu, que trabalha com as expressões corporais através da dança afro-brasileira, e que poderá compor o repertório pedagógico das/os docentes, dentro da perspectiva cultural e corporal propos ta aqui. Através dos instrumentos musicais, especialmente dos tambores, somos convidados a dançar pelo ritmo intenso, alegre e contagiante que o maracatu transmite.
Outras danças de origem afro-brasileira poderão fazer parte deste repertório, dentre elas: JONGO,
BUMBA-MEU-BOI, AFOXÉ, CACURIÁ, COCO, CAPOEIRA, TAMBOR DE CRIOULA, SAMBA DE RODA, DANÇA DE SÃO GONÇALO, CONGADA etc. Entretanto, é importante que, ao apresentar estas danças, a professora (ou o professor) pesquise sua origem, sua história, enfim, os componentes políticos, sociais e culturais que estão presentes nestas expressões culturais para que a atividade seja mais significativa, contemplando o que a Lei no 10.639/03 sugere.
MARACATU
É uma manifestação cultural da música folclórica pernambucana afro-brasileira. É formada por uma percussão que acompanha um cortejo real. Como a maioria das manifestações populares do
Brasil, é uma mistura das culturas indígena, africana e europeia.
Surgiu em meados do século XVIII. É um cortejo real que desfila pelas ruas com uma orquestra de percussão, cantando e dançando sem coreografia especial.
O Maracatu é também conhecido como nação (grande grupo homogêneo), originária das antigas festas de coroação de reis negros ocorridas por volta do final do século XVII. Advindos de cultos afro-brasileiros no período colonial, os integrantes das na ções (negros em sua maioria) veneravam a Calunga — boneca, espécie de divindade muito respeitada no sincretismo religioso.
Cantavam Loas — toadas para seus mortos (eguns), nas quaisincluíam versos africanos. Os negros acompanhavam os reis de congo, eleitos pelos escravos, para a coroação nas igrejas e, pos-
teriormente, faziam um batuque no adro em homenagem à padroeira ou à Nossa Senhora do Rosário. Perdida a tradição sagrada, o nação convergiu para o Carnaval, conservando elementos
distintos de qualquer outro cordão no Carnaval.
Em 1952, os mais antigos grupos de Maracatu eram Maracatu Elefante, Leão Coroado, Porto Rico e Estrela Brilhante. Em destaque, os seguintes personagens: à frente, o Rei, a Rainha e o
Escravo que sustenta o pálio ou guarda-sol, o Porta-estandarte,os Príncipes, Princesas, Vassalos, Embaixadores. Em seguida, a Dama-de-paço, a carregar a boneca de madeira preta Calunga,
as Baianas, os Caboclos, a representarem os índios, pessoas encarregadas de levar megafone e lanternas; e, por fim, os batuqueiros com seus instrumentos musicais. Todos seguem em um
cortejo sem coreografia, apenas as baianas evocam a dança dos Xangôs (cerimônias religiosas afro-brasileiras) e os caboclos com arco e flechas, machados e lanças, ora de cócoras, ora pulando,
apontando as armas, como nos passos do Caboclinhos — folgue do popular de caracterização indígena. Um dos momentos de maior significação no cortejo de Maracatu é a dança da Calunga,
quando a boneca, que representa os ancestrais masculinos ou
femininos do grupo, é entregue, pela Dama-do-paço, à Rainha e
depois vai para a mão das Baianas, para que cada qual dance
com a boneca por um tempo. FONTE: ALMEIDA, Rosane. Sobre
algumas danças brasileiras.
http://www.teatrobrincante.com.br/index.php/dancas-brasileiras.
Acesso em 18 de setembro de 2010.
MÚSICA
Nagô, Nagô
Nagô, nagô
Nossa rainha já se coroou
Nagô, nagô, nagô
Nossa rainha já se coroou
Composição de domínio público. Intérprete, Lia de Itamaracá,
CD “Eu sou Lia”.
É importante que a professora e/ou o professor conheça a origem do maracatu para contá-la às crianças, e que pesquise outras fontes, fazendo as adaptações necessárias para que elas compreendam os aspectos históricos da dança apresentada. Além disso, é possível articular a atividade proposta com outras atividades que fazem parte do universo pedagógico da Educação Infantil. Através das artes plásticas, por exemplo, a professora poderá convidar as crianças a confeccionar trajes e instrumentos musicais que compõem a dança. Poderá propor, ainda, pinturas, desenhos, modelagens das vestimentas utilizadas no maracatu, dentre outras atividades. Outra sugestão é buscar vídeos de curta duração com o objetivo de ampliar o conhecimento das crianças, como, por exemplo:
http://www.maracatuilealafia.com.br/site/index.php?option=com_content
&view=article&id=54&Itemid=57: Documentário de quase 10 minutos que
conta um pouco da trajetória do grupo, narrada por quem começou nele,
quem passou e quem faz parte dele hoje.
http://www.maracatuilealafia.com.br/site/index.php?option=com_content
&view=article&id=69&Itemid=74: Matéria gravada para o Programa P2 da
TV Uniban, em 2009, na sede do grupo.
Ver também DVD Série Livros Animados do kit da Cor da Cultura – “Capoeira, jongo, maracatu/Reisinho do Congo”.
Maria Clareth Gonçalves Reis é doutora em Educação pela UFF, pesquisadora associa-
da do NEAB/UFJF e capacitadora do projeto A Cor da Cultura.
Referncias bibliogrficas
ALMEIDA, Rosane. Sobre algumas danças brasileiras. http://www.teatrobrincan-
te.com.br/index.php/dancas-brasileiras. Acesso em 18 de setembro de 2010.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guana-
bara, 1981.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Funda-
mental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil / Ministério
da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:
MEC/SEF, 1998. 3v.: il.
CHARLOT, B. La mistification pédagogique. Paris, Payot, 1979.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo:
Cortez, 1992.
KRAMER, Sonia. A infância e sua singularidade. In: Ensino Fundamental de Nove
Anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. 2a edição.
Brasília-DF. MEC/SEB, 2007.
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