OS RACISTAS
Richard Zajaczkowski
O racismo é
uma das formas mais odiosas de discriminação racial que pode haver na face da
Terra. As pessoas que no íntimo se consideram racistas, embora de público não
admitam essa possibilidade, têm por princípio justificar uma espécie de escravatura
moderna do ser humano.
Essa
arbitrariedade não atinge apenas as pessoas de cor, pois se estende também aos
povos indígenas, aos judeus e outras minorias. Por serem raças sem maior
predomínio nos vários campos de atividade humana, os homens que subjugam grande
parcela das economias e riquezas do Planeta, entendem que os demais povos devam
se submeter a sua opressão.
Embora se diga
que no Brasil não há racismo, ao menos abertamente, cientistas e estudiosos
afirmam que se depender de uma mudança de mentalidade, em favor dos negros,
vamos ter que aguardar por mais 500 anos.
Na verdade, se
focalizarmos a história das raças, seu preconceito e intolerância,
verificaremos que ela teve início quando o filósofo inglês Herbert Spencer,
mentor da frase “sobrevivência dos mais aptos,” entendeu que a vida em
sociedade é uma luta ‘natural.’
Com isso ele
quis dizer que é normal que vençam os mais fortes, tenham sucesso, riqueza e
poder social; aos fracos, os despojos do fracasso. E da sobrevivência dos mais
aptos é que surgiu a famosa obra “Sobre a Origem das Espécies por meio da Seleção
Natural,” do cientista inglês Charles Darwin.
Os pensadores da sociedade capitalista da
época vincularam as teorias de Spencer e Darwin a ideologias eugenistas (
estudo, reprodução e melhoramento da raça humana) e racistas. Hitler, com seu
ideário de raça ariana foi um exemplo falido.
Desde então, as
elites dominantes, amparadas por vasta literatura preconceituosa, (leia-se “O
Espetáculo das Raças”, “O Caráter Nacional Brasileiro” e outros) segregam os
menos afortunados, deixando-os às margens do desemprego, do subemprego, da
pobreza, do analfabetismo, da miséria, da doença e de uma vida marginal.
Embora
possamos formar idéias próprias, elas não se encaixariam e nem traduziriam nos
mesmos moldes os nossos sentimentos, a respeito da realização de uma democracia
racial no Brasil, atualmente, conforme assevera a doutora em Psicologia pela
USP, Maria Augusta Bolsanello: “Pode-se dizer que o racismo é uma forma
perversa de violência contra a dignidade humana.”
“Bastam
algumas propagandas, algumas inverdades de caráter pseudocientífico, mas ditas
com seriedade e com o aval desta ou daquela personalidade, para que a visão
desumana de mundo seja aceita. Nasce então e arraiga-se o preconceito e a
intolerância, que logo se convertem em práticas inconscientes e cotidianas de
uma injustiça degradante.”
Nossa história
semanal mostra que apesar de haver pessoas que escondem seus sentimentos
raciais, nem todas se valem dessa faculdade abjeta: “Era uma vez um velho homem que vendia balões numa quermesse.
Evidentemente, o homem era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho
soltar-se e elevar-se nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens
compradores de balões.
Havia ali
perto um menino negro que estava observando o vendedor e, é claro, apreciando
os balões. Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul,
depois um amarelo e, finalmente, um branco. Todos foram subindo até sumirem de
vista. O menino, de olhar atento, seguia cada um. Ficava imaginando mil
coisas... Uma coisa o aborrecia: o homem não soltava o balão preto. Então,
aproximou-se do vendedor e perguntou-lhe:
– Moço, se o
senhor soltasse o balão preto ele subiria tanto quanto os outros? O vendedor de
balões sorriu compreensivamente para o menino, arrebentou a linha que prendia o
balão preto e, enquanto ele se elevava nos ares, disse-lhe: – Não é a cor,
filho, é o que está dentro dele que o faz subir”.
Moral da história: quem julga pelas aparências, também será julgado
por elas.
OS PRECONCEITUOSOS
O ser humano é
a única criatura que tem o péssimo hábito de formar idéias preconcebidas a
respeito de outras pessoas. Esse tipo de atitude mental quase sempre resulta na
falta de uma reflexão mais séria. Outras vezes, ouviu dizer comentários
desairosos sobre alguém e, ao invés de procurar mais informações, passa adiante
o que escutou pela primeira vez.
Além disso,
carrega consigo uma outra característica: a de acrescentar fatos e situações
criadas pela sua mente doentia, ou seja, ele passa adiante uma fofoca, um fato
inverídico e aumentado com sua própria fantasia.
Há situações nas quais pessoas inescrupulosas
gostam e se deleitam com o uso facultativo do cérebro, do intelecto para
prejudicar e falar mal de quem elas detestam. Pessoas assim estão pouco ligando
para o caráter dos outros, pois suas línguas viperinas a todo instante mancham
a reputação de seus semelhantes.
Esse tipo de
conduta por vezes gera uma certa preocupação nas pessoas de bem, pois elas
quase sempre acabam sendo o que nunca foram, ou seja, ficam conhecidas por
defeitos que não possuem e nem praticaram. Quanto a isso, há uma frase de cunho
filosófico que diz:
Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua
reputação, porque seu caráter é quem você realmente é, enquanto sua reputação
não passa do que os outros pensam de você. O mundo mental que criamos em
torno da reputação de qualquer pessoa, sendo falso, é o primeiro passo para
afastá-la de nós por meio da discriminação.
Discriminar é
separar, ou seja, afastar do nosso convívio pessoas que sejam diferentes do
nosso olhar preconceituoso, tais como deficiência física ou mental, de sexo, de
raça, de cor da pele ou de conduta comportamental (homossexualidade,
lesbianismo, etc).
Quando esse
preconceito atinge a esfera das relações no trabalho ou no amor, para se
sobressair, o ser humano se utiliza dos mais desprezíveis e abjetos sentimentos
para satisfazer seus desejos: a inveja, o ódio, a mentira, a difamação e, não
raras vezes, almejando até a morte de seus desafetos.
Nossa história
mostra que se refletíssemos melhor, haveria menos preconceito e mais pessoas
ligadas por interesses comuns: “Era uma vez um sapinho que encontrou um bicho
comprido, fino, brilhante e colorido deitado no caminho. – Olá! O que você está
fazendo estirada na estrada? – Estou me esquentando aqui no sol. Sou uma
cobrinha, e você?
– Um sapo.
Vamos brincar? E eles brincaram a manhã toda no mato. Vou ensinar você a pular.
E eles pularam a tarde toda pela estrada. – Vou ensinar você a subir na árvore
se enroscando e deslizando pelo tronco. E eles subiram. Ficaram com fome e
foram embora, cada um para sua casa, prometendo se encontrar no dia seguinte.
– Obrigada por
me ensinar a pular. – Obrigado por me ensinar a subir na árvore. Em casa, o
sapinho mostrou à mãe que sabia rastejar. – Quem ensinou isso a você? – A
cobra, minha amiga. – Você não sabe que a família Cobra não é gente boa? Eles
têm veneno. Você está proibido de brincar com cobras. E também de rastejar por
aí. Não fica bem.
Em casa, a
cobrinha mostrou à mãe que sabia pular. – Quem ensinou isso a você? – O sapo,
meu amigo. – Que besteira! Você não sabe que a gente nunca se deu com a família
Sapo? Da próxima vez, agarre o sapo e... bom apetite! E pare de pular. Nós
cobras não fazemos isso. No dia seguinte, cada um ficou em seu canto. – Acho
que não posso rastejar com você hoje.
A cobrinha
olhou, lembrou do conselho da mãe e pensou: ‘Se ele chegar perto, eu pulo e o
devoro’. Mas lembrou-se da alegria da véspera e dos pulos que aprendeu com o
sapinho. Suspirou e deslizou para o mato. Daquele dia em diante, o sapinho e a
cobrinha não brincaram mais juntos. Mas ficavam sempre ao sol, pensando no
único dia em que foram amigos.”
Moral da
história: Se não existe harmonia entre as raças humanas, é porque somos os únicos
seres que criamos nossos próprios obstáculos lá onde eles não existem.
Richard Zajaczkowski, bacharel
em Direito,
Oficial de
Justiça Avaliador, jornalista
e membro do
Centro de Letras de Francisco Beltrão
E-mail: richard.zaja@uol.com.br
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